Agência France-Presse
postado em 07/02/2014 13:40
Tuzla - Uma manifestação contra a miséria e o desemprego terminou em violência nesta sexta-feira (7/2) em Tuzla (noroeste da Bósnia) e em Sarajevo, onde os manifestantes invadiram a sede do governo local. Uma centena de jovens encapuzados vestidos com a camisa da equipe de futebol local de Tuzla entrou no edifício onde saquearam móveis e jogaram TVs pelas janelas. Mais de 5 mil manifestantes presentes no local aplaudiram a cena.Centenas de policiais formaram um cordão de isolamento em torno do imóvel que abriga os serviços de emergência da cidade. Fogo e uma espessa fumaça podiam ser vistos escapando do primeiro andar deste prédio de dez andares. Os manifestantes que estavam dentro do imóvel impediram que os bombeiros apagassem as chamas.
O mesmo ocorreu em Sarajevo, onde manifestantes quebraram as janelas e incendiaram as guaritas da sede do governo cantonal, segundo relatos da televisão estatal. Um dos líderes dos manifestantes, Aldin Siranovic, declarou que os manifestantes exigem a saída do governo. "Eles têm nos roubado há 25 anos e destroem o nosso futuro. Queremos que vão embora", lançou à multidão.
Trata-se de manifestações sem precedentes nesta antiga república iugoslava desde o fim da guerra de 1992-95. Elas ilustram o descontentamento do povo contra uma classe política corrupta e incapaz de recuperar uma economia em frangalhos. "A revolta dos cidadãos", era a manchete do principal jornal Dnevni Avaz. "A primavera bósnia", afirmou por sua vez o Oslobodjenje.
Atormentada por uma corrupção endêmica, este país dos Balcãs de 3,8 milhões de habitantes é um dos mais pobres da Europa. O desemprego atinge 44% da população ativa, mas o Banco Central estima que o número de pessoas sem emprego é de 27,5%, porque muitos trabalham no mercado informal. O salário mensal médio é de 420 euros. Segundo estatísticas do governo, quase um habitante em cada cinco vive na pobreza.
"Cada vez mais pessoas vivem na miséria e na pobreza, eles têm fome. O povo perdeu a esperança e não acredita em uma melhora da situação. Manifestar é seu meio" de ser escutado, comentou o analista político, Vehid Sehic. "Policiais! Vocês são nossos irmãos, nossos camaradas, nossos vizinhos! Juntem-se à nós", lançou às forças de ordem, Nihad Karac, um manifestante. "Tenho 28 anos e estou desempregado há dez", gritou um manifestante.
Nesta sexta-feira (7), as escolas e universidades permaneceram fechadas em Tuzla, por medo de novas manifestações violentas. Quinta-feira (6/2) à noite, oficiais da polícia e da justiça foram convocados para avaliar a situação da segurança.
Na véspera, trinta manifestantes e 104 policiais foram levados ao longo do dia para o centro de emergência de Tuzla com ferimentos causados por objetos duros e irritação nos olhos devido ao gás lacrimogêneo, segundo o porta-voz do estabelecimento, Adis Nisic. Oito manifestantes foram presos. Como nos dias anteriores, manifestações devem acontecer em vinte cidades, incluindo Sarajevo, Prijedor (norte), Mostar (sul), Banja Luka (norte), Zenica (centro) e Bihac (noroeste).