Agência France-Presse
postado em 08/02/2014 09:52
Damasco - As Nações Unidas se preparam neste sábado (8/2) para distribuir ajuda humanitária de emergência aos civis dos bairros sitiados em Homs, em mãos rebeldes, de onde saíram na sexta-feira dezenas de pessoas após um cerco de mais de 600 dias. A retirada de civis de Homs, no centro do país, e a distribuição de alimentos e material médico forma parte de um acordo entre a ONU, o governo sírio e os rebeldes após meses de negociações.Uma fonte governamental afirmou neste sábado à AFP que vários comboios se preparavam para entrar ao longo da manhã nos bairros cercados pelo exército desde junho de 2012 para a distribuição desta ajuda. "O comboio de ajuda está carregado e pronto para partir em direção à parte antiga de Homs", declarou o Crescente Vermelho em um tuíte antes das 11h00 locais (07h00 de Brasília).
Segundo as Nações Unidas, trata-se de uma ajuda de emergência para 2.500 pessoas, composta por alimentos, material de saúde e higiênico, colchões e cobertores, assim como dinheiro e apoio logístico "para enfrentar as necessidades imediatas daqueles que desejam deixar a zona e dos que permanecem em seu interior".
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Apesar do acordo, os rebeldes acusaram neste sábado o regime de atrapalhar a operação, ao lançar um obus contra os bairros cercados, violando a trégua humanitária. "Os bairros sitiados e, em especial, as zonas próximas ao local de entrada dos comboios de ajuda, em Hamidiya, foram atacados por obuses de morteiro provenientes dos bairros pró-regime" em Homs, declarou Yazan, um rebelde da parte antiga de Homs.
"Os rebeldes acusaram as tropas de lançar obuses para atrasar a ajuda", afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). A oposição síria no exílio alertou em um comunicado que um fracasso na chegada da ajuda seria "devastador para os civis inocentes que permanecem nas zonas sitiadas".
Escudos humanos
Um total de 83 civis, entre mulheres, crianças e maiores de 55 anos, deixaram Homs na sexta-feira, segundo a ONU. Um vídeo divulgado por um rebelde mostra um idoso enrolado em um cobertor enquanto abraça seu filho pela primeira vez em 18 meses. Durante o cerco, estes civis se alimentavam de ervas e azeitonas devido à falta de alimentos, segundo vários testemunhos. O exército do regime, que bombardeava quase diariamente estes bairros rebeldes para tentar retomar seu controle, acusava os rebeldes de utilizar os civis como escudos humanos.
Segundo o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, as pessoas retiradas na sexta-feira foram "transportadas aos locais de sua escolha, escoltadas pela ONU e pelo Crescente Vermelho sírio". Haq disse que foram ouvidos disparos na sexta-feira durante a retirada dos civis, mas que ambas as partes respeitaram amplamente o cessar-fogo.
O clérigo Abdul Harth al-Jalidi, que permanece no interior dos bairros sitiados, disse à AFP pela internet que a retirada de civis prosseguirá no domingo. O acordo é o primeiro gesto humanitário do regime desde a primeira rodada de negociações em Genebra entre o governo e a oposição sob supervisão das Nações Unidas, cuja segunda rodada está prevista para a próxima segunda-feira, depois que o regime de Bashar al-Assad confirmou sua participação nas negociações.
No entanto, esta segunda rodada de negociações também se anuncia difícil. O regime de Damasco, que chama os rebeldes de terroristas, quer centrar o debate no terrorismo. A oposição, por sua vez, quer focá-las em uma transição política que excluiria Assad. O conflito que atinge a Síria há mais de três anos deixou mais de 136.000 mortos, segundo o OSDH, e milhões de refugiados deslocados, de acordo com as Nações Unidas.