Agência France-Presse
postado em 10/02/2014 12:37
Teerã - Programa balístico, usinas nucleares, enriquecimento a 20%: o Irã determinou nesta segunda-feira (10/2) suas "linhas vermelhas" antes da retomada das negociações com as grandes potências sobre uma resolução global da crise nuclear na próxima semana em Viena. Estas discussões, previstas para os dias 18 e 19 de fevereiro, prometem ser difíceis para alcançar um acordo global que garanta a natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano.[SAIBAMAIS]As atividades nucleares iranianas foram o centro das inquietações internacionais nos últimos 10 anos. Alguns países ocidentais e Israel temem que ocultem um objetivo militar, apesar de Teerã desmentir reiteradamente estas acusações. Em paralelo, o Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) chegaram a um acordo no domingo sobre sete novos pontos de cooperação para melhorar a transparência do controverso programa nuclear, que deverão ser aplicados antes do dia 15 de maio.
Teerã deverá, por exemplo, fornecer, pela primeira vez em anos, informações sobre o desenvolvimento de detonadores que podem ser utilizados na fabricação de uma bomba nuclear. "Como nas precedentes negociações não vamos permitir a abordagem de questões de defesa (que) constituem a nossa linha vermelha", declarou Abbas Araqchi, vice-ministro das Relações Exteriores e chefe dos negociadores nucleares iranianos.
A subsecretária de Estado americano, Wendy Sherman, havia afirmado recentemente que a questão do programa de mísseis balísticos do Irã deveria ser abordada pelo grupo 5%2b1 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) para alcançar uma solução global. Ela também considerou que o Irã não precisava do reator de água pesada de Arak, atualmente em construção, ou da usina subterrânea de enriquecimento de urânio de Fordo.
O programa de mísseis balísticos do Irã preocupa os países ocidentais, principalmente os mísseis com um alcance de 2 mil km, capazes de atingir Israel, e foi condenado por várias resoluções da ONU, acompanhado por sanções internacionais. Por sua parte, Majid Takhté Ravanchi, outro negociador nuclear iraniano, reiterou nesta segunda-feira que o Irã não aceitará o fechamento de "nenhuma de suas instalações nucleares".
Mas, para tentar "minimizar as inquietações" ocidentais sobre o eventual uso de plutônio para a construção de armas nucleares, Teerã está pronto para modificar os planos do reator de Arak para limitar a produção de plutônio. O Irã tembém se compromete a não construir uma usina de tratamento, obrigatória para purificar o plutônio para fins militares.
Falta de confiança
Ali Akbar Salehi, o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (OIEA), também afirmou que o Irã não abandonará o enriquecimento de urânio a 20%. O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final sobre as negociações nucleares, "disse que não devemos desistir do nosso direito de enriquecer a 20%, porque este é um direito soberano do país", acrescentou.
Salehi também anunciou o desenvolvimento de um novo tipo de centrífuga "15 vezes mais potente" do que a primeira geração, atualmente em operação. O acordo de Genebra estipula que Teerã paralise por seis meses o seu enriquecimento a 20%, um passo importante para um nível militar (90%), e se empenhe em transformar o seu estoque em combustível ou urânio a 5%.
Em qualquer caso, as autoridades iranianas acreditam que "as negociações serão difíceis". O chefe da diplomacia, Mohammad Javad Zarif, disse esperar que as discussões de Viena definam o caminho para futuras negociações. "O maior desafio é a falta de confiança" em relação aos Estados Unidos, explicou. No entanto, o analista Ali Shabani considera que os progressos nas discussões com a AIEA podem servir aos interesses do grupo 5%2b1 .
"Este é um bom indicador da seriedade do Irã na busca de uma solução política e de que está pronto para responder todas às questões pendentes" da agência da ONU, disse à AFP. A AIEA quer determinar se o Irã tentou se dotar de uma bomba atômica antes de 2003 ou mais tarde. Em novembro de 2011, a agência afirmou que o desenvolvimento de detonadores era "motivo de preocupação" em razão de "sua possível aplicação em um dispositivo explosivo nuclear".
Ressaltando que o diálogo com a AIEA "é dependente do conduzido com o grupo 5%2b1, e não vice- versa", Shabani alertou para o risco de um "exagero da importância do acordo", mesmo que permita "aos 51 negociações mais fáceis para um público cético". A cooperação com a Agência desempenha um papel-chave nas negociações recentes, a AIEA é responsável por monitorar as medidas previstas pelo Acordo de Genebra.