Mundo

Em meio às negociações de paz, Homs dá trégua para retirada de civis

A maioria dos retirados estavam em estado de extrema debilidade, depois de terem sofrido o assédio imposto desde junho de 2012 pelas tropas do regime à cidade velha de Homs, nas mãos dos rebeldes

Agência France-Presse
postado em 11/02/2014 10:41
Damasco - A ONU se preparava nesta terça-feira (11/2) para retirar um novo grupo de civis sitiados há 20 meses na devastada cidade síria de Homs, num momento em que o regime e a oposição retomavam em Genebra suas difíceis negociações. Desde sexta-feira, segundo o Crescente Vermelho um total de 1.200 pessoas, em sua maioria crianças, mulheres e idosos saíram desta cidade considerada a "capital da revolução" e que pagou muito caro sua oposição ao regime de Bashar Al-Assad.

Civis se reúnem em torno de veículo das Nações Unidas enquanto esperam para serem levados de área sitiada de Homs
A maioria dos retirados estavam em estado de extrema debilidade, depois de terem sofrido o assédio imposto desde junho de 2012 pelas tropas do regime à cidade velha de Homs, nas mãos dos rebeldes. A trégua - negociada entre o regime e os rebeldes sob os auspícios da ONU - foi prolongada até a noite de quarta-feira para permitir mais retiradas, e também para facilitar a chegada de ajuda humanitária aos que decidiram ficar nos bairros destruídos pela guerra. "Pelo quinto dia consecutivo, serão retirados civis de Homs", declarou à AFP um funcionário do Crescente Vermelho.

No entanto, em Genebra representantes do governo sírio e da oposição se sentaram nesta terça-feira à mesma mesa com o mediador da ONU para a segunda rodada de negociações de paz, que foram retomadas na segunda-feira com dificuldades. O mediador da ONU, Lakhdar Brahimi, tenta sair do diálogo de surdos que caracteriza no momento estas negociações para encontrar uma saída política ao conflito que, segundo uma ONG, deixou mais de 136 mil mortos desde março de 2011.

Na segunda-feira Brahimi se reuniu com as duas delegações separadamente e posteriormente não quis fazer declarações à imprensa. "O ambiente é negativo", comentou uma fonte próxima à delegação governamental antes do início da reunião desta terça-feira. Na noite de segunda-feira a delegação da oposição síria advertiu que não participará de uma terceira rodada se não forem registrados avanços.

[SAIBAMAIS]Durante a primeira rodada de negociações, também em Genebra, o regime de Damasco havia aceitado o princípio da retirada de civis, mas expressou reservas sobre a entrada de ajudas do exterior aos bairros nas mãos de terroristas, em alusão aos rebeldes. No plano diplomático internacional as divergências também eram óbvias.



A Rússia, aliada de Damasco, considerou absolutamente inaceitável o projeto de resolução apresentado ao Conselho de Segurança da ONU sobre a situação humanitária na Síria, afirmou nesta terça-feira o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. "As ideias que nos transmitiram (...) são absolutamente inaceitáveis e contêm um ultimato para o governo" sírio, acrescentou.

"O Conselho de Segurança deve prestar atenção a um aaspecto não menos importante (da crise): o aumento do terrorismo", afirmou o ministro russo. Vários países ocidentais tentaram na segunda-feira obter o acordo da Rússia para uma resolução sobre a situação humanitária na Síria.

Tínhamos fome

Os vídeos divulgados sobre as retiradas de Homs mostram dezenas de pessoas, entre elas muitas crianças, atravessando na segunda-feira uma rua devastada, carregando malas, enquanto os veículos da ONU se dirigem a toda velocidade em direção a elas. As imagens refletem o desamparo destes civis sitiados durante meses, em condições espantosas, alimentando-se apenas com azeitonas e ervas.

"Graças a Deus", diz um homem, com uma longa barba, ao rebelde que o filma. "Decidimos sair porque tínhamos fome". Os civis retirados são recebidos pelo Crescente Vermelho em um centro de acolhida, onde recebem atendimento médico. O Programa Mundial de Alimentos afirmou à AFP que havia enviado aos bairros sitiados, entre sexta-feira e domingo, 310 pacotes de alimentos e 1,5 tonelada de trigo, tornando "possível alimentar 1.550 pessoas durante um mês". Cerca de três mil pessoas estavam sitiadas na cidade velha de Homs antes do início da operação humanitária.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação