Agência France-Presse
postado em 11/02/2014 18:37
Vaticano - O Vaticano ainda sofre o impacto do escândalo do Vatileaks, o vazamento de documentos confidenciais do papa Bento XVI em 2012 que determinou sua renúncia histórica há um ano."Eu não tive culpa pelo Vatileaks", confessou nesta terça-feira o cardeal Tarcisio Bertone, que foi secretário de Estado e braço direito de Bento XVI. "Lamento não ter conseguido deter o escândalo", reconheceu o cardeal em entrevista ao jornal italiano Il Giornale.
Bertone descreveu como "pouco determinante" o relatório secreto preparado pelos três cardeais sobre o caso e entregue pessoalmente por Bento XVI a Francisco no início de seu pontificado, em março de 2013.
[SAIBAMAIS]O caso do vazamento de documentos confidenciais do Vaticano, que levou à prisão do mordomo pessoal de Bento XVI, Paolo Gabriele, revelou as tensões existentes na Cúria, entre conservadores e progressistas, tradicionalistas e modernistas, e os partidários da transparência e do sigilo.
Para Bertone, "boa parte das decisões tomadas por Francisco foram orientadas pela leitura do relatório" secreto. De acordo com o escritor francês Nicolas Diat, que entrevistou vários eclesiásticos que preferiram não se identificar, o mordomo de Bento XVI era apenas "um fantoche" do cardeal italiano Mauro Piacenza, que tinha a ambição de assumir o cargo de Bertone.
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"Ele se reuniu em várias ocasiões com Gabriele", escreveu Diat, considerando que o escândalo não passou de uma tentativa de enfraquecer o papel do Papa, o de monarca absoluto.
O jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, autor do livro "Su Santidad" ("Sua Santidade", em uma tradução livre), com documentos e cartas enviados ao papa alemão, recusou-se a revelar suas fontes nesta terça-feira, quando procurado pela AFP, e disse que nunca se encontrou com Piacenza ou qualquer outro cardeal.
"O mordomo só queria mostrar que eles estavam se aproveitando do Papa", disse Nuzzi. Entrevistado pela Tgcom24, Bertone sugeriu que há mais documentos a serem revelados, sem dar mais detalhes.
O novo secretário de Estado do Vaticano, o italiano Pietro Parolin, um diplomata veterano que foi núncio na Venezuela, reconheceu que espera que esse capítulo tão "doloroso" para a Igreja seja definitivamente encerrado.