Agência France-Presse
postado em 16/02/2014 08:21
Bagdá - O clérigo xiita iraquiano Moqtada al Sadr, que formou uma milícia para combater as tropas americanas no Iraque, anunciou neste domingo sua retirada da vida política a dois meses das eleições gerais.
Este anúncio do dirigente do movimento xiita mais popular do país, célebre devido a seu intenso combate contras as tropas americanas depois da invasão de 2003, pegou de surpresa seus partidários, e no momento ainda não se sabe que impacto isso terá na vida política do país.
"Anuncio que não vou interferir mais nos assuntos políticos e que não há um bloco que nos represente a partir de agora o governo ou no parlamento", afirmou Sadr em seu comunicado, fazendo uma alusão a sua corrente sadrista.
Moqtada Sadr, o chefe de uma milícia armada mais temida do país, é um crítico ferrenho do primeiro-ministro xiita Nuri al Maliki, a quem classifica de ditador.
"Anuncio o fechamento de todas os escritórios relacionados com as atividades políticas, sociais ou religiosas", acrescentou.
Indagado pela AFP, um funcionário de seu escritório informou que ninguém deseja comentar este "anúncio surpresa". Mas acrescentou que duvida que Moqtada Sadr "possa retratar-se desta importante decisão".
Sadr argumenta em seu comunicado que a decisão se deve "à preservação da reputação honrada dos mártires da família Sadr", seu pai e outro parente mortos durante o regime de Saddam Hussein.
Também explicou que seu gesto busca "por fim a qualquer corrupção no passado e que possa ocorrer no futuro" e que poderiam atentar contra sua reputação. Um gesto que comove partidários.
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A corrente de Moqtada Sadr conta atualmente com 40 deputados no parlamento, de um total de 325, incluindo o vice-presidente Qusai Abdel Wahab al Suhail, e seis ministros no governo. Por ora, nenhum dirigente governamental reagiu ao anúncio.
No entanto, no setor de Sadr, seus partidários estão assombrados. "Esta decisão foi um choque para nós e não conhecemos nem suas motivações nem suas consequências, e ignoramos se é definitiva ou temporária", afirmou uma fonte do sadrismo.
Um funcionário da sede do movimento em Bagdá assinalou à AFP que neste domingo foi ao local e encontrou as portas fechadas.
Este líder continua gozando de uma imensa popularidade entre os xiitas pobres do Iraque e tem uma importante base política, depois de ter dirigido a milícia armada de 60.000 homens que combateram os americanos e, durante um período em 2008, contra as forças sob comando de Maliki.
Apesar de ter dado seu apoio a Maliki em 2006 e em 2010 para dirigir o governo, no geral costumava criticá-lo. Em 2012 chegou, inclusive, a taxá-lo de ditador e tentou infrutiferamente afastá-lo do poder.
Em várias oportunidades, denunciou a corrupção nas instituições políticas e seus ministros suspenderam, durante alguns meses, em 2013, sua participação no gabinete de governo.
Chefe religioso, nascido nos anos 1970, sempre usa o turbante negro dos descendentes do Profeta Maomé e raramente aparece em público, preferindo evitar a imprensa. Viveu vários anos no Irã para seguir seus estudos religiosos.