Agência France-Presse
postado em 16/02/2014 16:50
Caracas - O governo os acusa de serem instrumentos golpistas fascistas e de provocar o caos, eles respondem que só lutam contra a insegurança, a inflação e pela liberdade de companheiros presos: são os universitários críticos do governo cujas práticas dominam as manchetes da Venezuela.Manifestações estudantis agitaram o país durante todo o mês de fevereiro, com clímax no dia 12, em Caracas, quando aconteceu o maior protesto desde que o presidente Nicolás Maduro assumiu, com saldo de três mortos, mais de 60 feridos e dezenas de detidos.
O estopim dos protestos foi a segurança e os campus universitários são os "pontos mais críticos, com ataques armados, assaltos, estupros, sequestros", explica à AFP, Daniel Martínez, presidente da Federação de Centros de Estudantes da Universidade Simón Bolívar, em Caracas.
A essa reivindicação se somou primeiro a deterioração das condições de vida por causa da inflação de 56% ao ano e uma persistente escassez de alimentos e produtos básicos, e depois do pedido de liberdade de estudantes detidos em protestos.
O presidente Nicolás Maduro classificou esses protestos como um "golpe de Estado em desenvolvimento" e sustenta que os estudantes estão infiltrados por grupos de ultra-direita ligados à oposição.
[SAIBAMAIS]
"O movimento estudantil não está aí para derrubar governos. Estamos dispostos a instalar mesas de trabalho com o governo depois da libertação de nossos companheiros. Queremos dialogar para resolver nossas demandas", sustenta Juan Requesens, dirigente da Federação de Centros Universitários da Universidade Central de Venezuela (UCV).
Há duas semanas, um setor da Mesa de Unidade Democrática (MUD, que reúne os partidos de oposição) impulsiona com alguns grupos de estudantes uma tática de protesto de rua permanente sob o lema "A Saída".
Os inspiradores desta tática são o líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López (procurado pela justiça desde quinta-feira sob acusações de homicídio e incitação à violência), o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma e a deputada María Corina Machado, que goza de imunidade.
Contudo, essa linha de ação gerou reticências inclusive no seio da aliança opositora e seu último candidato presidencial, Henrique Capriles, alertou que "as condições não estão dadas para pressionar a saída do governo".
Dia sangrento
Na quarta-feira, no final da manifestação de estudantes aconteceram incidentes quando radicais, alguns encapuzados, provocaram danos às instalações da Promotoria Geral, em Caracas.
Isso foi o estopim para confrontos entre estudantes, forças anti-distúrbios e grupos com distintivos do governo, que seguiram com focos isolados durante horas em diferentes pontos de Caracas, deixando três mortos e dezenas de feridos e de detidos.
"Os estudantes têm direito a se manifestar. Contudo, não têm direito que pequenos grupos infiltrados provoquem morte e violência", disse este sábado o vice-presidente, Jorge Arreaza, em declarações ao canal estatal VTV, acrescentando que os excessos são causados por não mais que 500 ou 600 revoltosos.
Festa Mexicana
Esta semana o ministro do Interior e Justiça, Miguel Rodríguez Torres, citou nominalmente alguns dos jovens que lideravam o movimento como parte de uma "tática conspiratória para gerar caos e violência" e que teriam sido treinados no México para realizar ações violentas.
"Uma das mais importantes reuniões feita para preparar esses grupos que atuaram ontem (...) foi realizada no México e a batizaram de ;festa mexicana;", acrescentou.
"Que Rodríguez Torres deixe de mentir ao mesmo tempo que fala de diálogo. Eu jamais estive no México, chega de teorias conspiratórias, este é um movimento estudantil que reivindica seus direitos", replicou diante de uma consulta da AFP, Gabriela Arellano, da universidade de Los Andes, apontada pelo ministro.
O governo acusou também os estudantes por provocar o caos com interrupções de avenidas e vias de comunicação, em especial em horas de pico em Caracas, cidade cujo tráfico sempre é muito complexo.
"Sim, é certo que as manifestações terminam bloqueando ruaa, mas o movimento estudantil tem diferentes formas de se expressar quando não o querem escutar" justifica Requesens.