Agência France-Presse
postado em 17/02/2014 09:09
Washington - Esta semana, os americanos fizeram uma viagem ao passado, precisamente duas décadas atrás, quando o então presidente democrata Bill Clinton se viu envolvido em um escândalo sexual que quase lhe custou o cargo, e a primeira-dama Hillary se manteve fiel ao marido.As novas revelações vêm da revisão de anotações das conversas entre Hillary Clinton e sua confidente, Diane Blair, professora de Ciência Política no Arkansas, falecida em 2000.
Cerca de 40 páginas de arquivos de Diane mostram uma Hillary às vezes "implacável", "incomodada", ou "irritada", com o microcosmos político e midiático, um retrato que contrasta com a mulher política, disciplinada e popular, na qual se transformou após ser eleita para o Senado em 2000.
Os documentos, obtidos e publicados pela página na Internet Washington Free Beacon, de orientação conservadora, provavelmente alimentarão a futura batalha política entre os republicanos e a eventual candidata à presidência em 2016.
Nesses papéis, Hillary Clinton aparece "desconcertada e irritada" com o mundinho político de Washington, atordoada por aqueles que tentavam "destruir" o governo de Bill Clinton, e furiosa que seu marido tivesse "arruinado" o início de seu primeiro mandato (1993-1997).
Diane Blair cita Hillary Clinton tratando a estagiária Monica Lewinsky - que teve um caso com Bill - de "narcisista enlouquecida". Ela também condena "a enorme falta de critério" de seu marido, mas acredita que os ataques contínuos à presidência dele explicam esse erro - em parte.
[SAIBAMAIS]
Finalmente, Hillary decide não se separar de Bill Clinton, seu "melhor amigo" por mais de 20 anos, por admirar seu sucesso espetacular na política.
;A mulher mais admirada dos EUA;
Hoje, não é fácil lembrar do ódio da direita americana contra a então primeira-dama, por seu papel político, incluindo sua fracassada tentativa de reformar o sistema de saúde.
Desde então, seu passado tem sido completamente dissecado, sobretudo, no que se refere à longa corrida das primárias democratas em 2008, quando foi derrotada pelo atual presidente Barack Obama.
Alguns republicanos estão decididos a trazer à tona, com bastante destaque, os problemas da década de 1990.
O senador republicano Rand Paul, um dos possíveis presidenciáveis em 2016, já falou do assunto "Monica Lewinsky" em várias entrevistas recentes.
Segundo ele, os democratas foram excessivamente lenientes com as escapulidas do então presidente, contradizendo o perfil de defensor das mulheres e de uma força que luta pela igualdade no mercado de trabalho propagado pelo Partido.
O presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Priebus, também prometeu que "tudo estará sobre a mesa", se Hillary Clinton ganhar as primárias democratas em 2016. "Temos toneladas de" informação anti-Clinton, disse ele à rede MSNBC.
"Algumas são velhas, outras podem ser mais recentes", desconversou. Mas será que os eleitores vão se interessar por escândalos que aconteceram há 20 anos?
"Os republicanos acreditam que essa é uma estratégia viável", disse Costas Panagopoulos, que forma os futuros diretores de campanha na Universidade de Fordham, em Nova York.
A agitação anti-Hillary no campo conservador ilustra a aura de invencibilidade que cerca a ex-secretária de Estado - o que assusta os republicanos, frustrados por terem perdido a Casa Branca em 2008.
"Não estou convencido de que vai funcionar. Hillary Clinton é conhecida há tanto tempo que as pessoas sabem do que gostam nela, ou não", afirmou Costas Panagopoulos.
Hillary Clinton também reforçou sua imagem de uma mulher de Estado, ao comandar por quatro anos a diplomacia dos Estados Unidos no primeiro governo Obama.
Apesar de sua gestão no Departamento de Estado ter sido arranhada pelo atentado contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia, em 2012, ela participou pessoalmente da condução da operação que levou à captura e à morte do líder da rede Al-Qaeda Osama bin Laden e teve papel-chave na guerra na Líbia, ou no programa de sanções imposto ao Irã.
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"Não teve nada melhor para a carreira de Hillary Clinton do que ter sido secretária de Estado", disse a professora especialista no papel feminino na política Bonnie Dow, da Universidade Vanderbilt, no Tennessee. "Graças a isso, ela se tornou a mulher mais admirada dos Estados Unidos", afirmou Bonnie. Será que os republicanos conseguem tirá-la desse pedestal? Eu acho que não", vaticinou.