Agência France-Presse
postado em 17/02/2014 19:28
Teerã - O Guia Supremo iraniano, Aiatolá Ali Khamenei, jogou nesta segunda-feira (17/2) um balde de água fria nas negociações de seu país com as grandes potências mundiais sobre o programa nuclear do Irã ao afirmar que elas "não levarão a lugar algum".O Irã se prepara para retomar nesta terça-feira, em Viena, os encontros com as grandes potências do grupo 5%2b1 - Grã-Bretanha, França, Estados Unidos, Rússia e China, além da Alemanha - visando alcançar um acordo abrangente sobre seu controverso programa nuclear.
[SAIBAMAIS]Após uma década de fracassos e crescentes tensões, o presidente americano, Barack Obama, estimou as chances de um acordo em "50-50", enquanto o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, previu discussões difíceis.
"Alguns dos funcionários do governo anterior, bem como deste governo, acreditam que o problema será resolvido se eles negociarem a questão nuclear", declarou Khamenei em declarações publicadas em seu site, Khamenei.ir.
"Repito mais uma vez que não estou otimista sobre as negociações e que elas não levarão a lugar algum, mas eu não sou contra elas", ressaltou.
Em um acordo interino alcançado em novembro, o Irã concordou em congelar algumas atividades nucleares por seis meses em troca de um alívio de sanções que asfixiavam a economia do país e de uma promessa feita pelas potências ocidentais de que não iriam impor novas restrições econômicas.
As potências ocidentais e Israel suspeitam que o Irã tente produzir bombas nucleares com o pretexto de manter um programa civil. Teerã rejeita essas acusaçõess por Teerã.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que se opôs à retirada de sanções impostas ao Irã, considerou novamente nesta segunda-feira que as negociações beneficiam apenas o Irã: "De fato, eles (os iranianos) não deram nada, mas conseguiram muito", afirmou Netanyahu.
O encontro de três dias marcado em Viena entre o Irã e o chamado grupo 5%2b1 é o primeiro de uma série de reuniões complicadas aguardadas para os próximos meses. Sob o acordo "abrangente" que agora é buscado, as potências querem que o Irã reduza suas atividades permanentemente.
;Desculpa para os Estados Unidos;
Isso pode incluir o fechamento da usina de Fordo, a redução do número de centrífugas de enriquecimento de urânio, a diminuição de seu estoque de material físsil e a alteração de um novo reator que está sendo construído em Arak, segundo diplomatas.
Em troca, o Irã veria a retirada de todas as sanções do Conselho de Segurança da ONU, dos Estados Unidos e da UE que pesavam sobre o país.
Khamenei declarou que o Irã vai cumprir sua promessa de manter as negociações, acrescentando que as autoridades iranianas devem "continuar com seus esforços". "O trabalho que foi iniciado pelo Ministério das Relações Exteriores vai continuar e o Irã não irá violar o seu compromisso, mas vou repetir novamente, ele não vai levar a lugar nenhum", disse Khamenei.
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"A nação iraniana enfatizou que nunca vai sucumbir à intimidação e à chantagem da América", afirmou Khamenei, referindo-se a slogans contrários aos Estados Unidos bradados por multidões durante as celebrações em todo o país na semana passada pelo 35; aniversário da Revolução Islâmica iraniana.
Khamenei também ressaltou que a questão nuclear do Irã estava sendo utilizada como um pretexto para Washington buscar políticas hostis contra a República Islâmica.
"A questão nuclear é uma desculpa para a América (continuar) a sua animosidade. Agora, os porta-vozes americanos estão trazendo à tona as questões de direitos humanos e de mísseis".
Wendy Sherman, o principal negociador dos Estados Unidos nas negociações, declarou que o Irã também deve abordar as preocupações da comunidade internacional sobre o seu programa de mísseis balísticos em qualquer acordo abrangente.
Autoridades americanas também declararam que deve ser mantida pressão sobre o Irã por sua suposta violação dos direitos humanos.
Zarif, em sua chegada a Viena para as negociações, reiterou nesta segunda-feira que estes temas não estavam em discussão.
"Vamos dizer a eles que estas questões não são tópicos relevantes para estas negociações. Insistimos em discutir as questões que foram acordadas na última rodada de negociações", declarou à agência de notícias estatal IRNA.
Quando perguntado se tinha plena autoridade para as negociações, o ministro das Relações Exteriores disse que possuía um "quadro definido".
"O líder supremo define as principais políticas, o presidente define o enquadramento necessário para executá-las e nós - no ministério das Relações Exteriores - somos responsáveis por implementar essas políticas", completou.