Viena - O Irã e as grandes potências iniciaram nesta terça-feira (18/2), em Viena, as difíceis negociações em busca de um acordo definitivo sobre o programa nuclear iraniano em um clima persistente de ceticismo e desconfiança.
[SAIBAMAIS]As negociações contam com a presença de altos funcionários dos países do grupo 5%2b1 (Estados Unidos, Rússia, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha) e da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, participa na reunião, que deve durar três dias.
Na segunda-feira, depois de um jantar de trabalho com Ashton, Zarif declarou que estava em Viena "com a vontade política de chegar a um acordo". Já o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, declarou que as negociações consecutivas ao histórico acordo de Genebra "não levarão a lugar nenhum", ressaltando, no entanto, que não era contrário às conversações. Um acordo definitivo permitiria uma normalização das relações internacionais entre o Irã e os Estados Unidos, cortadas há 35 anos, e descartaria a opção militar, levantada recentemente pelo secretário americano de Estado, John Kerry.
No dia 24 de novembro em Genebra os iranianos e o grupo 5%2b1 concluíram um acordo transitório de seis meses através do qual o Irã congelou algumas atividades nucleares sensíveis em troca do levantamento de uma parte das sanções que afetam a sua economia.
O Irã suspendeu o enriquecimento de urânio a 20%, etapa importante em direção a um nível militar (90%). O acordo, em vigor desde 20 de janeiro e supervisionado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), deve se transformar agora em um acordo global que garanta sem sombra de dúvida o caráter pacífico do programa nuclear iraniano.
As grandes potências e Israel, única potência nuclear do Oriente Médio, suspeitam que o Irã desenvolve um programa nuclear com fins militares, o que o governo iraniano nega categoricamente.
Especialistas e diplomatas consideram pouco provável que se chegue a um acordo em um prazo de seis meses, mas o prazo de negociações que vence em julho pode ser prolongado por até um ano com consentimento mútuo. "Estas negociações são a melhor oportunidade que tivemos até agora para resolver o assunto", considerou na segunda-feira um funcionário americano de alto escalão.
No entanto, uma falta de avanços nas negociações pode "reforçar a percepção de que o Irã tergiversa" e daria argumentos para os congressistas americanos implementarem mais sanções, declarou o Centro de Estudos Políticos Europeus.
Isto enfraqueceria a margem de manobra do presidente moderado Hassan Rohani, impulsionador do degelo dos últimos meses, frente à ala firme do regime iraniano que se opõe a qualquer compromisso.
Para obter a suspensão do conjunto das sanções internacionais, o Irã terá que fechar a usina de enriquecimento de Fordo, construída sob uma montanha, e reduzir a quantidade de centrífugas que servem para enriquecer o urânio, estimam os especialistas. Também deverá enterrar definitivamente seu projeto de reator de água pesada de Arak, do qual pode extrair plutônio que poderia ser utilizado para fabricar uma bomba, acrescentam.
Combinadas com inspeções mais frequentes da AIEA, estas medidas podem travar consideravelmente a capacidade do Irã de fabricar um arsenal nuclear. Um dos negociadores iranianos, Hamid Baidinejad, advertiu no domingo que o Irã rejeita a proibição da utilização de centrífugas de nova geração que estão sendo testadas. Este é um dos pontos centrais para alcançar um acordo de longo prazo, disse. O Irã quer conservar o reator de Arak para a produção de isótopos médicos, embora esteja disposto a estudar "medidas técnicas para o combustível produzido para dissipar inquietações", esclareceu Baidinejad.