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Incerteza sobre recomeço das obras do Canal do Panamá, paradas há 2 semanas

Após conversas com representantes do consórcio, o administrador do Canal, Jorge Quijano, anunciou que as obras seriam retomadas nesta quinta-feira enquanto as partes elaboram "um acordo interino"

Agência France-Presse
postado em 20/02/2014 17:55
O consórcio encarregado da ampliação do Canal do Panamá se comprometeu a recomeçar nesta quinta-feira (20/2) as obras, paralisadas há duas semanas, diante da possibilidade de um acordo para injetar recursos no projeto, mas até esta tarde as autoridades não confirmavam se os trabalhos foram reiniciados.

Ônibus do consórcio Grupo Unidos pelo Canal (GUPC) levaram dezenas de trabalhadores nesta quinta-feira às obras no setor do Pacífico, segundo imagens de televisão, mas a entrada na área das obras só é possível com autorização das autoridades.

"Tudo está tranquilo. Há um grupo minúsculo que iniciou os trabalhos e outros que chamaram estão nos prédios da obra esperando instruções", disse à AFP Héctor Hurtado, representante do sindicato da construção, Suntracs, nas obras de ampliação.

Após conversas com representantes do consórcio, o administrador do Canal, Jorge Quijano, anunciou na noite de quarta-feira que as obras seriam retomadas nesta quinta-feira enquanto as partes elaboram "um acordo interino".


"Nos chamaram ontem à noite para ir trabalhar, vamos ver o que acontece", afirmou um dos trabalhadores ao canal TVN, enquanto outro afirmava que recomeçar a obra era a decisão "mais acertada" porque negociar com outras empresas "a essa altura do projeto repercutiria na entrega" da obra.

Contudo, nesta quinta-feira nem o GUPC nem a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) informaram um recomeço das obras. Depois do anúncio, a empresa espanhola Sacyr, que lidera o consórcio, ganhou 4,31% na Bolsa de Madri.

Principais divergências

Na quarta-feira (19/2), Quijano afirmou que, apesar do compromisso de reiniciar as obras "ainda existem diferenças importantes que devem ser esclarecidas nas próximas 72 horas" para chegar a um acordo definitivo.

A ACP afirmou na quarta-feira em um comunicado que assim que forem reiniciadas as obras o GUPC remeterá 36,8 milhões de dólares para pagar a quinzena pendente aos trabalhadores e fazer frente a outras obrigações com fornecedores.

O GUPC, formada também pela empresa italiana Salini Impregilo, a belga Jan de Nul e a panamenha Constructora Urbana (CUSA), deteve as obras de ampliação há duas semanas, depois que fracassaram várias rodadas de diálogos para chegar a um acordo com a ACP, mas depois das práticas continuaram.

O GUPC reivindica sobrecustos do projeto que chegam a 1,6 bilhão de dólares, adicionais aos 3,2 bilhões do contrato para a construção de um terceiro jogo de eclusas que permita a passagem de navios com mais de 12.000 contêineres, o triplo da carga dos que podem passar atualmente.

Quijano afirmou na semana passada que tinha um plano em discussão segundo o qual a seguradora Zurich America International, que protege o investimento com uma fiança de 600 milhões de dólares, aportaria 400 milhões. A ACP e o consórcio antecipariam cada um 100 milhões para reiniciar os trabalhos.

Segundo Quijano, o ponto mais quente das discussões era sobre o tempo no qual o GUPC deve devolver à ACP os 784 milhões de dólares que já tinha antecipado para realizar as obras.

O mal menor


A crise, que começou no dia 30 de dezembro, fez com que fosse adiada de junho de 2015 a dezembro desse ano a data de conclusão do projeto, que registra um avanço global de 72% e de 70% na construção das eclusas.

Antes havia atrasos que impediram que as obras fossem encerradas este ano, quando se comemora o centenário desta estratégica via por onde passa 5% do comércio mundial.

"Apesar dos reveses, custos e atrasos que este mal-entendido vai gerar, que o GUPC continue é a melhor opção", disse à AFP o economista Fernando Estribí.

O atraso no projeto, cujo custo total é de 5,25 bilhões de dólares, tem um forte impacto na economia do país centro-americano. O Canal aporta ao Panamá cerca de 960 milhões de dólares anuais, cerca de 10% das receitas fiscais totais.

Estima-se, além disso, que as receitas adicionais pela ampliação aumentariam no primeiro ano a 300 milhões, a 400 milhões no segundo e a 2 bilhões de dólares no terceiro.

O atraso das obras também afeta países como Estados Unidos, que realizaram investimentos milionários em seus portos para permitir a entrada dos novos navios que passarão pelo Panamá.

Inaugurado em 1914 pelos Estados Unidos e devolvido ao Panamá em 1999, o Canal tem como principais clientes os Estados Unidos e a China.

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