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Coreanos separados pela guerra têm momentos efêmeros de intimidade para

O encontro foi possível após duras negociações entre as autoridades de Seul e Pyongyang

Agência France-Presse
postado em 21/02/2014 11:07
Pai e filho se despedem após breve encontro. Seom -Kyung , 91 anos, teve que voltar para a Coreia do Sul por motivos de saúde
Centenas de idosos coreanos compartilharam nesta sexta-feira (21/2), durante algumas horas no monte Kumgang, Coreia do Norte, os primeiros momentos de intimidade em mais de 60 anos, em um encontro de famílias separadas pela guerra salpicado com discursos de doutrinação política.

Depois de reencontros comoventes e em alguns casos traumáticos na quinta-feira (20/2) diante das câmeras de televisão, os envolvidos foram autorizados a passar três horas na mais completa privacidade.

Apesar da emoção e do pouco tempo, já que as famílias devem voltar a separar-se no sábado (22/2), os idosos tentaram recuperar seis décadas de ausência, saudade e angústia em poucas horas.

Febris, com a saúde delicada e enfermos, os idosos tocavam os rostos dos parentes e passavam rapidamente dos sorrisos às lágrimas.

Lee Young Sil (esquerda), 88, e Lee Jung Sil (direita) chegam ao resort Monte Kumgang na Coreia do Norte para encontro com família

Um idoso sul-coreano de 93 anos viu na quinta-feira pela primeira vez o rosto do filho, de 64, depois que a Guerra da Coreia (1950-1953) o separou da esposa grávida. "Deixe que eu te abrace", disse o pai entre lágrimas.

Depois dos encontros privados, alguns participantes sul-coreanos se queixaram que os parentes do Norte sentiam a obrigação de dar lições políticas baseadas na propaganda do regime.

"Era um pouco irritante por causa dos comentários políticos incessantes", disse Choi Dong-Myung após o encontro com a irmã e o irmão.



Alguns idosos do sul também contaram que os parentes norte-coreanos afirmaram que a reunificação seria possível apenas após a saída dos soldados americanos do território sul-coreano.

Esta é a primeira reunião de famílias coreanas separadas pela guerra (1950-1953) desde 2010. O encontro foi possível após duras negociações entre as autoridades de Seul e Pyongyang.

A Coreia do Norte concordou com o encontro depois de ter exigido, sem sucesso, a anulação dos exercícios militares conjuntos da Coreia do Sul e dos Estados Unidos previstos para começar na próxima segunda-feira.

Família coreana celebra reencontro com um almoço na

Os participantes, selecionados por sorteio, levaram aos parentes do Norte presentes, remédios, fotos da família.

Os anciãos também comentaram as fotos de família, feitas antes da divisão da península e depois. Muitos encontraram pela primeira vez os familiares do outro lado da fronteira.

A norte-coreana Lee Jung-Sil compareceu ao encontro com a esperança de ver a irmã mais velha, Lee Young-Sil, de 87 anos. Mas a sul-coreana, que sofre do mal de Alzheimer, não a reconheceu.

"Irmã mais velha, sou eu! Por quê não me escuta?", gritava Lee Sung-Sil.

Dos 125.000 sul-coreanos inscritos desde 1988 para participar no programa de reencontro familiar, 57.000 faleceram e muitos sobreviventes não têm mais condições de fazer a viagem.

No domingo, 88 norte-coreanos se reunirão com 361 familiares do Sul. O reencontro deve prosseguir até terça-feira.

Um passo adiante significativo

Sob pressão crescente dos Estados Unidos, que desejam a suspensão do programa nuclear norte-coreano, a China, principal aliado de Pyongyang, elogiou o reencontro das famílias, que segundo Pequim tem "grande importância".

"É um passo adiante significativo que vai no bom caminho", afirmou a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying. Para ela, o evento favorece "a estabilidade e a paz na região".

Pouco depois do reencontro, sul-coreanos e norte-coreanos deverão separar-se no sábado, praticamente com a certeza de que não terão outra possibilidade de reunião.

"Será nossa primeira e última reunião", lamentou Kim Dong-nin, antes mesmo de viajar de Seul.

Em estado de confronto quase permanente, as duas Coreias seguem tecnicamente em guerra. Os países não assinaram um tratado de paz depois do armistício de 1953.

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