Kiev - A escalada da violência na Ucrânia ameaça de quebra a frágil economia do país, agora dependente da ajuda russa e com sua nota financeira degradada ao nível de uma nação à beira do default.
Há meses, preocupa os mercados a situação financeira desse país que renunciou bruscamente, no final de novembro, a um acordo de livre comércio com a União Europeia.
Ao invés disso, a Ucrânia obteve um plano de resgate da Rússia - país do qual é estritamente dependente -, que incluiu um crédito de 15 bilhões de dólares e uma redução do preço do gás importado, que significam outros bilhões de dólares.
Contudo, a escalada da violência desde o final de janeiro e o derramamento de sangue de quinta-feira (20/2), voltaram a afundar o país na incerteza. A Rússia, após entregar 3 bilhões no final de dezembro, anulou esta semana outra entrega de 2 bilhões, alegando que antes era necessário um retorno à tranquilidade.
A população vive uma crescente angústia. Segundo a imprensa local, as pessoas reúnem alimentos, por temer uma escassez. Alguns bancos fecharam agências ou reduziram as horas de atendimento.
Após a introdução de limitações às retiradas de dinheiro, foram formadas filas diante dos caixas automáticos, pelo que a federação interbancária EMA teve que informar que a medida obedecia questões de segurança e não a problemas de liquidez no sistema bancário.
A moeda local, a hryvnia, perdeu desde o começo do ano 10% frente ao dólar apesar das drásticas medidas para restringir os movimentos de capitais.
Nesse contexto, a agência de classificação financeira Standard & Poor;s rebaixou nesta sexta-feira a nota da Ucrânia, que passou a "CCC", e corresponde a um país à beira do default. Além disso, a perspectiva é negativa, o que significa que a agência pode rebaixar sua classificação a curto ou médio prazo.
A S justificou sua decisão alegando "a degradação substancial" da situação, estimando que depois dos enfrentamentos dos últimos dias entre governo e a oposição, com saldo de dezenas de mortos, "está fora de alcance um compromisso político". "Pensamos que isso acentua a incerteza quanto ao apoio financeiro da Rússia em 2014, e apresenta um risco crescente para a capacidade do governo de pagar suas dívidas", explica a agência.
- Default sem apoio russo -
Nos mercados, a situação da Ucrânia gera pânico. As taxas de juros da dívida ucraniana a curto prazo dispararam a 34%, contra 5% há um mês. As dos títulos a 10 anos passaram a 11,3%, contra 8,5% em janeiro.
É certo que a tendência era, nesta sexta-feira (21/2), de uma leve melhora, após as concessões anunciadas pelo poder. Contudo, as taxas ucranianas continuam sendo superiores às dos países da UE com as piores dificuldades, como, por exemplo, a Grécia.
Agora, resta a incerteza sobre a posição que a Rússia adotará sobre sua prometida ajuda. "Quanto mais durar o caos, mais será difícil a Ucrânia evitar um ;default;" constata Lilit Gevorgyan, economista da sociedade de analistas IHS Global Insight. "Nem sequer a Rússia está disposta a pôr seus recursos em jogo no atual vazio político na Ucrânia", acrescenta.
As autoridades ucranianas gastaram bilhões de dólares, durante todo o ano passado, quando o país estava em recessão, para sustentar sua moeda. As reservas de divisas caíram, assim, a um nível perigosamente baixo.
Segundo os especialistas, se a Ucrânia se voltar para a Rússia, isso pode frear os investimentos ocidentais. Por outro, se retoma uma aproximação com a UE, isso acarretaria uma degradação do comércio da Ucrânia com a Rússia, que representa 25% do total de suas trocas com o exterior.