Caracas - A oposição venezuelana convocou para este sábado (22/2) uma passeata exigindo o fim das milícias chavistas, com as quais o governo nega vínculos, como parte da onda de protestos que toma conta do país há três semanas e que já deixou cinco mortos.
No mesmo dia haverá um ato de "mulheres chavistas", criando o risco de confronto entre os dois lados, num país altamente polarizado.
Nesta sexta-feira (21/2), surgiram denúncias na imprensa sobre tentativas de intimidação durante a madrugada por parte de civis armados contra manifestantes.
Há dias que parte do comércio está fechada na cidade de San Cristóbal, capital do estado de Táchira, onde os protestos começaram, em 4 de fevereiro.
O presidente Nicolás Maduro, que enfrenta seu pior momento político em dez meses de mandato, confirmou na quinta a morte de um homem, baleado em Barquisimeto (oeste), aumentando para cinco o número de vítimas em protestos.
Civis armados em ambos os lados
O governo anunciou que vai mandar tropas do Exército para Táchira, na fronteira com a Colômbia, por acreditar que existem colombianos armados atuando com a oposição. As autoridades classificam a instabilidade política como tentativa de golpe de Estado.
"Existem muitos grupos armados que não parecem fazer parte das forças de segurança do Estado. Não entendo porque estão atuando de maneira livre, impune", denunciou o arcebispo de Caracas, Jorge Urosa.
Repórteres da AFP testemunharam em Caracas, durante a madrugada, uma intimidação contra um grupo de estudantes, realizada por pessoas com megafones, em caminhonetes e motos, todas sem identificação.
Maduro, que nega a existência de milícias ligadas ao governo, denunciou a existência de mercenários contratados pela oposição, e prometeu "tirar do chavismo" quem está armado.
Capriles retoma protagonismo
O opositor Henrique Carriles, derrotado por Maduro por uma pequena diferença de votos nas eleições do ano passado, foi quem convocou a passeata de sábado em Caracas.
Com isso, retornou à liderança da oposição, que teve como protagonistas desde o início dos protestos os setores radicais do partido Mesa da Unidade Democrática, entre eles Leopoldo López, preso por incitar a violência.
Capriles tinha se distanciado desse grupo por considerar que não era o momento de pedir a saída do governo.
Os protestos estudantis têm sido frequentes em Caracas, San Cristóbal e Valencia, entre outras cidades, e geralmente acabam em confronto com a polícia. É nesse momento, à noite, que aparecem os grupos armados.
As manifestações começaram contra a insegurança, principalmente nos campi universitários, depois que uma estudante sofreu uma tentativa de estupro.
À medida que se espalharam por outras cidades, incorporaram críticas à situação econômica, à censura nos meios de comunicação e pedidos pela libertação de presos nas marchas.
Na quinta, Maduro acusou a rede americana CNN de tentar passar a impressão que há uma "guerra civil" no país e ameaçou expulsá-la da Venezuela. Na semana passada, o governo retirou do ar o canal colombiano NTN24, que "pretendia transmitir um fracassado golpe de Estado", segundo Maduro.
A "CNN Español" informou nesta sexta que o governo da Venezuela havia revogado as credenciais de quatro dos seus correspondentes no país.