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Venezuela tenta conter exorbitante valor do dólar paralelo com novo mercado

O dólar negro, também chamado paralelo, é outro dos responsáveis pelo avanço de inflação

Agência France-Presse
postado em 25/02/2014 19:53
Caracas - O governo venezuelano criou um novo mercado de câmbio em uma tentativa de conter o exorbitante valor do dólar paralelo, mas sua aposta dependerá, entre outros fatores, de quanto injetar nesse mecanismo, disseram analistas.

Acuado pela inflação mais alta da América Latina e um dos piores níveis de escassez de produtos da última década, o governo chavista se viu obrigado a flexibilizar o férreo controle cambial vigente desde 2003 - onde o dólar paralelo é cotado por um valor treze vezes mais alto que o oficial - com a criação de um terceiro mercado de divisas, chamado "dólar permuta".

"O impacto do novo mercado de câmbio dependerá da quantidade de divisas que estejam disponíveis nele", explicou à AFP o economista Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanálisis.

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"Se uma parte da demanda de dólares continuar insatisfeita, o dólar negro vai continuar igual", opina o ex-diretor do Banco Central da Venezuela (BCV), José Guerra.

O vice-ministro para a Área Econômica e presidente da petroleira estatal PDVSA, Rafael Ramírez, responsável por gerir os quase 100 bilhões de dólares anuais que entram no país com a venda de petróleo, explicou nesta segunda-feira que, com este novo sistema, pessoas e empresas privadas poderão comprar e vender diariamente dólares à vista ou por meio de títulos.

A liquidação de parte das divisas da PDVSA neste mercado e os valores mais altos deve ajudar a reduzir o déficit fiscal venezuelano, estimado em 15% do Produto Interno Bruto, um dos motores da inflação.

[SAIBAMAIS]Além disso, a liquidação das divisas adicionais e mais caras absorverá maior quantidade de bolívares circulantes e contribuirá para reduzir a pressão inflacionária. A liquidez do sistema cresceu 73% no último ano.

"Vamos satisfazendo a demanda de dólares, assim as pessoas não terão que recorrer ao mercado negro", afirmou Ramírez, um dos ministros mais veteranos do chavismo.

Contudo, Ramírez não informou a que taxa vai ser cotada nem quantos dólares vai injetar nesse mercado - só disse "uma quantidade importante de recursos", um dado que para os especialistas é chave se quiser conter o avanço do "dólar negro", que esta semana é cotado a 83 bolívares por dólar, 13 vezes superior a taxa oficial de 6,30.

O dólar negro, também chamado paralelo, é outro dos responsáveis pelo avanço de inflação, pois muitos produtos de uso cotidiano são calculados nessa taxa, porque foram importados com esse dólar ou pela especulação dos comerciantes.

- Quatro taxas de câmbio -
Com o "dólar permuta", a vida econômica dos venezuelanos passa a ser avaliada por meio de quatro taxas de câmbio: a majoritária taxa oficial, a 6,30 bolívares por dólar, para importações prioritárias (alimentos e remédios); a taxa Sicad, a 11,80 dólares por meio de leilões semanais para outros setores, em especial o turismo; a taxa de "permuta", que poderá ser de entre 20 e 30 bolívares, e a disparada taxa paralela.

A pergunta é se o governo dispõe de divisas suficientes para abastecer o novo mercado permuta em sua luta contra o paralelo, em um contexto de estagnação da produção e venda de petróleo, de uma leve queda do preço do barril, de aumento do gasto público e do déficit fiscal e do pagamento da dívida externa.

"A diferença que existe entre a oferta e a procura é de cerca de 30 bilhões de dólares, mas não sei de onde vão sair. Nossos cálculos nos indicam que poderia haver cerca de 20 milhões de dólares diários, o que é muito pouco", explica o economista Máxim Ross, fundador do Centro de Estudos da Economia venezuelana da Universidade Monte Ávila.

"É difícil prever, depende da disponibilidade que a PDVSA tiver, de quanto podem destinar a este mercado. Também é preciso ver se a maioria vai ser com títulos ou com dinheiro, isso também muda um pouco a disponibilidade ou se vão aumentar a emissão da dívida", explica o economista Asdrúbal Oliveros diretor da Ecoanalítica.

Segundo ele, provavelmente o governo tenha que reacomodar as quantidades de divisas que destina a cada taxa. "Se me empenho em liquidar grande quantidade de divisas a 6,30 e 11,80, efetivamente não há divisas suficientes. A taxa supervalorizada continuará estimulando a corrupção e fomentando o mercado negro", alertou.

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