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Morre o violonista espanhol Paco de Lucía, uma lenda do flamenco

O músico foi vítima de um infarto, informou a prefeitura, sem especificar o local exato do óbito

Agência France-Presse
postado em 26/02/2014 08:49

Durante a carreira Paco se tornou um artista famoso em todo o mundo

Madri - O violonista espanhol Paco de Lucía, que revolucionou a música flamenco e a levou para os palcos de todo o mundo, morreu na terça-feira no México aos 66 anos, deixando um gigantesco legado musical.

"Durante a noite morreu o pai, o irmão, o tio, o amigo, partiu o gênio Paco de Lucía", informou a família em um comunicado nesta quarta-feira. "Paco viveu como quis e morreu brincando com os filhos ao lado do mar", completa o comunicado.

Seu representante, José Emilio Navarro, relatou à AFP que o músico sofreu um ataque cardíaco em uma praia próxima de Playa del Caramen (leste), onde passava férias. O artista começou a passar mal "quando jogava futebol com seu filho de 8 anos", informou Navarro.

"Paco de Lucía estava morando em Cuba, mas tinha viajado com sua esposa e dois filhos para passar suas férias em Playa del Carmen", explicou o agente. A prefeitura de Alegeciras, sua cidade natal, confirmou o falecimento decorrente de um infarto, e anunciou luto oficial de três dias.

"A morte do músico representa uma perda irreparável para o mundo da cultura, para a Andaluzia", declarou o prefeito de Algeciras, José Ignacio Landaluce. O corpo do artista será repatriado até quinta-feira, segundo Navarro e uma fonte consular.

"Neste momento, seu corpo está em um necrotério de Cancun", afirmou. "A morte de Paco de Lucía transforma o gênio em lenda. Seu legado perdurará para sempre, assim como o carinho que sempre mostrou por sua terra. Apesar de ele ter partido, sua música, sua maneira genial de interpretar, seu caráter, sempre estará entre nós", afirmou o prefeito de Algeciras em um comunicado.

A morte repentina provocou várias reações. Os reis e os príncipes das Astúrias enviaram telegramas de condolências, informou a Casa Real. Destacando uma "figura única e insubstituível", o ministro da Cultura, José Ignacio Wert, transmitiu pêsames à viúva.

"Um um gênio com maiúsculas nos deixou", lamentou a presidência regional da Andaluzia. "É um golpe muito grande para o mundo do flamenco, do violão", disse o violonista Paco Cepero. O município de Algeciras decretou três dias de luto oficial e convocou um minuto de silêncio em "memória do maior violonista de todos os tempos".

Francisco Sánchez Gómez, mais conhecido como Paco de Lucía, nasceu em 21 de dezembro de 1947 nesta cidade andaluza da província de Cádiz em uma família cigana. De sua mãe, Lucía Gómez ;A Portuguesa;, veio o sobrenome artístico De Lucía, com o qual ficou famoso em todo o planeta ao modernizar o flamenco tradicional.

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"O flamenco é um dos gêneros musicais mais sofisticados e exigentes", afirmou o músico em uma entrevista em 2004. Ele considerava que o gênero foi "maltratado na Espanha, assim como no Brasil ou Cuba, países de uma riqueza musical extraordinária, onde as classes acomodadas sentem vergonha de seu folclore".

Em 2004, o músico, que começou a carreira aos 12 anos e recebeu o título de Doutor Honoris Causa de universidades como a de Cádiz ou Boston, foi o vencedor do Prêmio Príncipe das Astúrias das Artes.

"A partir do violão flamenco, aprofundou também o repertório clássico espanhol - de Albéniz a Falla -, na emoção da bossa nova e no sentimento do jazz", considerou o júri. "Tudo que pode ser expressado com as seis cordas do violão está em suas mãos, que se animam com a emocionante profundidade da sensibilidade e a limpeza da máxima honradez interpretativa", completou o júri.

Em sua extensa discografia estão álbuns como "Entre dos aguas" (1973), "Friday night in San Francisco" (1981), ao lado dos músicos de jazz Al Di Meola y John McLaughlin, ou seus últimos trabalhos: "Cositas buenas" (2004) e "En vivo" (2011).

Entre suas contribuições ao flamenco está a introdução da caixa de madeira, instrumento que os escravos africanos levaram ao Peru no século XVI e que o violonista conheceu durante uma viagem a Lima.

O violonista gostava de lembrar que devia a carreira ao pai, um cantor de flamenco desconhecido.

"Os ciganos são melhores porque escutam a música desde que nascem. Se não tivesse nascido na casa de meu pai, eu não seria ninguém hoje. Não acredito no gênio espontâneo. Meu pai me obrigou a tocar violão desde que era criança", afirmou no livro "Paco de Lucía. Una nueva tradición para la guitarra flamenca".

Conta a lenda que seu pai o amarrava ao pé da cama em sua casa de Algeciras para impedir que o menino saísse e forçar a prática. "Não era assim, era mais psicológico. Ele perguntava ;durante quanto tempo você praticou?;. Eu respondia ;10 ou 12 horas; e via sua cara de felicidade", afirmou De Lucía.

O início precoce nos palcos flamencos, ambientes noturnos repletos de fumaça, permitiu que ganhasse dinheiro para ajudar a família. Mas aos 15 anos já colaborava em gravações de discos em Madri e, quando atingiu a maioridade, assinou contrato para o primeiro álbum.

Na época, conheceu outro músico talentoso, que virou um mito do flamenco moderno, Camarón de la Isla, que então com 15 anos acabara de desembarcar com seu talento na capital espanhola.

A amizade foi imediata e os dois artistas foram grandes colaboradores até a morte, em 1992, de Camarón, conhecido pelos excessos e vítima de um câncer.

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