Agência France-Presse
postado em 27/02/2014 13:18
Simferopol - O Parlamento da Crimeia, península de maioria pró-russa no sul da Ucrânia, decidiu nesta quinta-feira (27/2) pela realização de um referendo no dia 25 de maio sobre a soberania da região, enquanto que as autoridades pediam calma após a invasão por um grupo de manifestantes pró-russos das sedes do governo regional.O Parlamento, sob controle de um comando pró-russo desde a madrugada desta quinta-feira, também aprovou uma moção de rejeição ao governo local, após uma votação a portas fechadas, de acordo com o serviço de imprensa do Parlamento.
A única questão deste referendo será a seguinte: "Você é a favor da soberania nacional da Crimeia dentro da Ucrânia?".
Segundo o serviço de imprensa, 61 dos 64 deputados presentes votaram a favor do referendo. O Parlamento da Crimeia possui 100 deputados no total.
No dia 25 de maio também será realizada a eleição presidencial antecipada na Ucrânia, após a destituição no último sábado do presidente Viktor Yanukovytch.
O Parlamento está fechado desde o início da manhã aos jornalistas. Os deputados não foram autorizados a utilizar seus celulares ou tablets, indicou à AFP Enver Abdouraimov, representante dos tártaros, minoria muçulmana que é favorável às novas autoridades em Kiev.
Neste contexto, o primeiro-ministro da república autônoma da Crimeia, Anatoli Mohilyov, pediu calma à população, defendendo uma "solução pacífica" para a crise.
"Peço calma à população. Precisamos evitar reuniões em massa, há discussões em curso, e precisamos que tudo seja resolvido pacificamente, através do diálogo", declarou Mohilyov à imprensa.
Acompanhado por quinze deputados, ele entrou no Parlamento, onde conversou com membros do comando que tomaram o controle ao amanhecer do local e da sede do governo local, hasteando a bandeira da Rússia.
"Há, no interior do prédio, cerca de cinquenta pessoas. Elas se comportaram de uma maneira correta conosco, mas estão armadas. Acredito que são eslavas", acrescentou, ressaltando que não houve vítimas durante a ação que teve início na madrugada desta quinta-feira.
"Fomos informados da presença de veículos blindados fora da cidade, não sabemos nada sobre isso, mas eles não estão se movendo, eles não estão vindo em direção ao centro da cidade", indicou o premiê.
O presidente da Medjlis, a assembleia que representa os tártaros da Crimeia, também pediu calma à população e fez um apelo para que todos evitem comportamentos agressivos nas ruas.
A Crimeia, inicialmente pertencente durante a URSS à Rússia, foi adicionada à Ucrânia em 1954. Ela continua a abrigar a frota russa no Mar Negro em seus bairros históricos, a cidade portuária de Sebastopol.
"Aqui é uma terra russa. O Império russo combateu os turcos para conquistar este território. O importante é que haja paz e que um referendo seja organizado para que a gente possa decidir sobre o nosso futuro. Precisamos de uma confederação na Ucrânia: o oeste e o centro são ucranianos, o sul e o leste são russos", declarou um desempregado de 50 anos que se dirigia ao Parlamento com uma bandeira russa.
Em Kiev, o presidente interino Olexander Turchynov advertiu a frota russa na Crimeia que vai considerar uma "agressão militar" qualquer movimento de tropas, depois que homens armados pró-Moscou tomaram o controle de prédios governamentais.
"Falo aos chefes militares da frota no Mar Negro: todos os militares devem permanecer no território previsto nos acordos. Qualquer movimento de tropas será considerado uma agressão militar", declarou durante uma sessão no Parlamento para confirmar o novo governo.
A Rússia, no entanto, assegurou nesta quinta que respeitará os acordos assinados com a Ucrânia sobre a frota do Mar Negro na região da Crimeia.
"No que diz respeito às declarações sobre a violação por parte da Rússia dos acordos sobre a frota do Mar Negro, declaramos que na difícil situação atual a frota russa do Mar Negro aplica rigidamente os acordos", afirmou a assessoria de imprensa do ministério das Relações Exteriores russo, citado pelas agências russas.
A Crimeia, com população majoritária de língua russa, é a região da Ucrânia onde as novas autoridades do país podem enfrentar mais resistências após a destituição de Viktor Yanukovytch na semana passada.
Na quarta-feira, confrontos foram registrados entre manifestantes pró-russos e partidários das novas autoridades em Simferopol, onde o presidente do Parlamento local descartou qualquer debate sobre uma eventual separação.
O corpo de um homem, aparentemente morto por um ataque cardíaco e sem apresentar sinais de violência, foi encontrado perto do Parlamento durante esses eventos.