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Novo governo da Ucrânia eleva o tom com a Rússia por tensão na Crimeia

O presidente interino advertiu ainda que qualquer movimentação das tropas da frota russa do Mar Negro "será considerada uma agressão militar"

Agência France-Presse
postado em 27/02/2014 13:21
Simferopol - A Ucrânia elevou o tom nesta quinta-feira (27/2) com a Rússia depois que dezenas de pró-russos armados tomaram edifícios oficiais na volátil península da Crimeia e de Moscou ter anunciado proteção ao presidente destituído Viktor Yanukovytch.

A advertência foi feita um dia depois do presidente russo Vladimir Putin ter colocado em estado de alerta suas tropas na fronteira com a Ucrânia, o que aumentou os temores de manobras militares para resolver uma crise que lembra a Guerra Fria. O presidente interino Olexander Turchynov advertiu que qualquer movimentação das tropas da frota russa do Mar Negro, que tem sua base na cidade crimeia de Sebastopol, "será considerada uma agressão militar".



A crise na Ucrânia, uma ex-república soviética de 46 milhões de habitantes, explodiu quando Yanukovytch decidiu, em novembro, desistir de um acordo comercial com a União Europeia (UE) para estreitar vínculos com a Rússia. A repressão dos protestos em Kiev provocou um banho de sangue na semana passada e precipitou a destituição do presidente pelo Parlamento.

[SAIBAMAIS]Yanukovytch permanecia desde então com o paradeiro desconhecido, mas o mistério começou a ser desvendado nesta quinta-feira, quando uma fonte do governo de Moscou informou que a Rússia forneceu proteção. "Após o pedido de Yanukovytch às autoridades russas para garantir sua segurança pessoal, informamos que este pedido foi atendido em território russo", declarou a fonte, citada por agências russas.

O próprio Yanukovych, de um local não revelado, divulgou uma nota na qual afirma que ainda se considera presidente. E que também dará uma coletiva de imprensa na sexta-feira, na Rússia. A Ucrânia parece, no entanto, pronta para uma aproximação da UE, com um governo de jovens políticos pró-Ocidentes que permanecerá à frente do país até a eleição presidencial antecipada de 25 de maio.

O Parlamento confirmou nesta quinta-feira o nome de Arseni Yatseniuk, de 39 anos, como novo primeiro-ministro. "A Ucrânia vê seu futuro na Europa. Queremos integrar a União Europeia", declarou o novo chefe de Governo da ex-república soviética, independente desde 1991. Yatseniuk é um jurista e economista de meteórica ascensão política, que se impôs como um dos líderes opositores ao presidente destituído Viktor Yanukovytch.

País vive de migalhas

O Executivo interino também terá a difícil missão de impedir a falência do país. "A Ucrânia vive de migalhas", disse Yatseniuk no discurso de posse. "Os cofres do Estado estao vazios, roubaram tudo. Não prometo melhoras, nem hoje nem amanhã. Nosso principal objetivo é estabilizar a situação", completou. Para isto, destacou, a Ucrânia precisa de 75 bilhões de dólares.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que recebeu um pedido oficial de ajuda financeira das novas autoridades de Kiev. Para apoiar o novo governo, Washington ofereceu uma garantia de até um bilhão de dólares, como parte de possível empréstimo das instituições financeiras internacionais.

A bandeira russa na Crimeia

O Parlamento da Crimeia decidiu nesta quinta-feira pela realização de um referendo no dia 25 de maio sobre a soberania da região, no mesmo dia das eleições antecipadas na Ucrânia. O Parlamento, sob controle de um comando pró-russo desde a madrugada desta quinta-feira, também rejeitou o governo local após uma votação a portas fechadas, de acordo com a mesma fonte.

Os homens que assumiram o controle das sedes do Parlamento e do governo em Sinferopol, capital da Crimeia, hastearam as bandeiras da Rússia. Durante o dia, receberam reforços de moradores de várias cidades da Crimeia. O grupo, com "armas modernas", impediu a entrada dos funcionários, segundo Anatoli Mohilyov, primeiro-ministro da Crimeia, uma república autônoma ucraniana de 27.000 km2 e dois milhões de habitantes, em sua grande maioria de língua russa.

O ministro ucraniano interino do Interior, Arsen Avakov, anunciou que a polícia está em alerta e o procurador-geral informou que uma investigação foi aberta por "atos de terrorismo". A resposta ocidental à crise na Crimeia foi imediata. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que a Rússia deve abster-se de qualquer ação que possa provocar uma escalada das tensões ou gerar mal-entendidos.

"Todos os países tem que respeitar a integridade territorial e a soberania da Ucrânia. A Rússia se comprometeu a fazê-lo e é importante que cumpra sua palavra, o mundo estará vigiando", disse o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Moscou afirmou que "aplica estritamente" os acordos assinados com a Ucrânia sobre a frota russa no Mar Negro.

A Rússia transferiu a península da Crimeia para a Ucrânia em 1954, quando as duas repúblicas integravam a União Soviética. Em 2010, após anos de divergências, os Parlamentos dos dois países concordaram em prolongar a presença da frota russa no puerto de Sebastopol até 2042, em troca de uma redução de 30% no preço do gás russo.

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