O presidente ucraniano destituído Viktor Yanukovytch reapareceu nesta sexta-feira (28/2) em público na Rússia, afirmando que não foi derrubado e prometendo continuar lutando pelo futuro da Ucrânia, enquanto Kiev acusou a Rússia de invasão armada na Crimeia.
Homens armados tomaram posições estratégicas nesta península ucraniana de língua russa, incluindo no aeroporto da capital Simferopol, constatou um jornalista da AFP, apesar das autoridades ucranianas garantirem a retomada do controle desses locais.
Viktor Yanukovytch, procurado na Ucrânia por "assassinatos em massa" após a morte de 82 pessoas em Kiev na semana passada, apareceu durante sua coletiva de imprensa na cidade de Rostov del Don, sul da Rússia, pela primeira vez desde a sua destituição em 22 de fevereiro pelo Parlamento ucraniano.
Ele declarou que se viu obrigado a sair da Ucrânia porque recebeu ameaças que colocavam sua vida em perigo e afirmou acreditar que o poder agora está nas mãos de jovens nacionalistas e neofascistas.Além disso, afirmou que as violências e as vítimas na Ucrânia são o "resultado da política irresponsável do Ocidente, que se mostrou muito indulgente em relação a Maidan", a praça onde ocorreram os protestos.
Yanukovytch também afirmou estar surpreso com o silêncio por parte do presidente russo Vladimir Putin a respeito os acontecimentos na Ucrânia. "A Rússia deve e é obrigada a agir, e conhece o caráter de Vladimir Putin, eu me pergunto por que ele está em silêncio", declarou.
Mais cedo, as novas autoridades ucranianas pediram à Rússia a extradição de Yanukovytch. Neste contexto, a chanceler alemã Angela Merkel parabenizou nesta sexta-feira (28/2) o novo primeiro-ministro ucraniano Arseni Yatsenyuk e assegurou seu apoio. "A União Europeia e a Alemanha farão todo o possível para apoiar o novo governo ucraniano", declarou.
A Áustria e a Suíça anunciaram, por sua vez, que irão congelar os bens de uma série de fugitivos ucranianos, à pedido do poder de transição em Kiev.
Tensões exacerbadas na Crimeia
A reaparição de Yanukovytc acontece em um contexto de fortes tensões entre Moscou e o novo poder em Kiev. As autoridades ucranianas de transição falaram de uma "invasão armada e de ocupação" sobre os últimos acontecimentos na Crimeia, uma República Autônoma da Ucrânia, onde a maior parte dos dois milhões de habitantes fala russo.
A Crimeia está se convertendo no principal foco de resistência às novas autoridades. A península pertencia à Rússia, que a cedeu à Ucrânia em 1954, quando as duas repúblicas formavam parte da União Soviética.
Em Simferopol, capital da Crimeia, a bandeira russa foi hasteada na quinta-feira sobre o Parlamento local, controlado por várias dezenas de homens armados pró-russos. Os deputados destituíram o governo local e votaram pela realização de um referendo no dia 25 de maio para ter mais autonomia.
"Considero o que está acontecendo como uma invasão armada e uma ocupação. Em violação a todos os acordo e normas internacionais", indicou o ministro ucraniano interino do Interior, Arsen Avakov.
"Unidades armadas da frota russa bloqueiam" o aeroporto de Belbek, próximo à cidade de Sebastopol, e que homens armados também se apoderaram do aeroporto em Simferopol, onde "esses agressores não escondem que pertencem às Forças Armadas russas".
Um correspondente da AFP havia constatado igualmente pouco antes neste aeroporto a presença de homens armados com fuzis kalashnikov, vestindo um uniforme sem insígnias. Quando foram interrogados sobre sua origem, estes indivíduos se negaram a fazer comentários. "Tudo o que acontece na Crimeia é uma reação absolutamente natural a uma usurpação do poder", considerou por sua vez Yanukovytch durante a coletiva de imprensa.
[SAIBAMAIS]Os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, França e Polônia se disseram "muito preocupados com a situação instável na Crimeia", em uma declaração comum divulgada nesta sexta-feira. "Tudo deve ser feito para diminuir a tensão (...) e promover discussões pacíficas entre as partes", afirmaram os ministros.
A Lituânia, que assegura a presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, pedirá a este organismo uma resposta à crise na Crimeia, anunciou seu chefe da diplomacia, Linas Linkevicius. "Pedi à nossa delegação (nas Nações Unidas) para assegurar que a situação na Crimeia entre na agenda do Conselho de Segurança da ONU", declarou.
O ministro reconheceu que uma tal decisão pode encontrar dificuldades na medida em que necessita da aprovação dos membros permanentes do Conselho de Segurança, que dispõem de um direito de veto, incluindo a Rússia.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse na quinta-feira estar "extremamente preocupado pelas evoluções mais recentes na Crimeia" e convocou a Rússia a evitar "qualquer ação que possa provocar uma escalada" na crise.
As autoridades russas negaram qualquer vínculo com os distúrbios da Crimeia, segundo o secretário de Estado americano, John Kerry, que falou na quinta por telefone com seu colega russo Serguei Lavrov. A Rússia prometeu "respeitar a integridade territorial da Ucrânia", acrescentou Kerry, reiterando sua advertência contra qualquer provocação.