Agência France-Presse
postado em 01/03/2014 14:24
Kiev - Soldados comuns ou forças especiais do exército russo, mercenários a serviço de Moscou, voluntários ucranianos pró-russos: quem são os homens armados que tomaram o controle das instituições e dos aeroportos na república autônoma da Crimeia, à frente das tensões separatistas?
Equipes vestidas num uniforme verde oliva desprovidas de patentes, com os rostos escondidos sob máscaras, armadas com fuzis e metralhadoras, caladas diante das perguntas dos jornalistas, que assumiram o controle do Parlamento e do governo da Crimeia, assim como dos principais aeroportos da região.
[SAIBAMAIS]Ao seu lado, militantes não armados que se auto-proclamam membros de grupos locais de auto defesa não escondem sua ideologia pró-Rússia e de sua recusa das novas autoridades ucranianas, após a destituição de Viktor Yanukovytch, após três meses de intensas manifestações populares e confrontos que deixaram 83 mortos em três dias em Kiev.
"Nós estamos aqui para evitar que os fascistas que tomaram conta do poder em Kiev venham para cá", explica Vladimir, 46 anos, civil que se apresenta como antigo oficial.
Segundo o site americano Daily Beast, citando fontes em Moscou, estes homens são membros de uma sociedade militar privada, contratados pelo governo russo para proteger suas tropas na Crimeia.
Mas, para as autoridades ucranianas, não há dúvidas de que tratam-se de militares russos da frota do Mar Negro, sediada em Sebastopol.
"A Rússia enviou tropas à Crimeia e tomou conta não só do parlamento e da sede do governo, como também quer tomar o controle dos meios de comunicação (...) Moscou deve parar imediatamente com essa provocação e convocar os militares na Crimeia", declarou, na noite de sexta-feira, o presidente interino da Ucrânia, Olexandre Tourtchinov.
Proteção dos russos
O pensamento do presidente ucraniano é compartilhado pelo especialista em defesa Serguii Zgourets. "A maneira como esses homens saem dos veículos, seguram suas armas, tudo mostra que tratam-se de fuzileiros navais da frota russa do Mar Negro".
"As unidades de auto-defesa (civis pró-russos na Crimeia, ndlr) não têm o preparo necessário, nem as quantidades necessárias de armas e equipamentos", ressalta.
A revista ucraniana Dzerkalo Tyjnia, na edição deste sábado, fala em "combatentes das forças especiais do exército russo cujo objetivo é fazer operações no exterior quando os interesses nacionais da Rússia estão em jogo".
A Crimeia foi conquistada pela Rússia no século 18, quando pertencia aos Tártaros, vassalos do império otomano. Ela fazia parte da Rússia durante a União Soviética e só foi incorporada à Ucrânia em 1954. A península abriga até hoje a frota russa do Mar Negro, mediante acordo entre os dois países.
Os termos deste acordo foram violados, segundo Kiev, que lembra que a Rússia deve avisar a Ucrânia com antecedência antes de tomar qualquer medida na península. Segundo o ministro ucraniano da Defesa, Igor Tenioukh, a Rússia aumentou em 6.000 homens seu efetivo na Crimeia.
Mas Moscou garante seguir à risca os acordos entre os dois países: "o deslocamento de alguns carros da frota do Mar Negro foi feito seguindo as normas e não precisava de nenhuma autorização" de Kiev.
Ao mesmo tempo, a Rússia garantiu que não iria "ignorar" o pedido de ajuda feito pelo novo primeiro-ministro da Crimeia, Serguii Axionov, eleito pelo parlamento local numa sessão a portas fechadas. Axionov não precisou, contudo, de qual tipo de ajuda estava falando.
A presidente do Senado russo, Valentina Matvienko, afirmou ser "possível" o envio de um "contingente limitado para garantir a segurança da frota no Mar Negro e dos cidadãos russos que vivem na Crimeia".