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Depois de um ano da morte, Chávez segue onipresente na Venezuela

Com um desfile cívico-militar, o governo de Nicolás Maduro lembrará na quarta-feira, dia 5 de março, o primeiro aniversário da morte do líder da "revolução socialista do século XXI"

Caracas - A Venezuela completa um ano sem Hugo Chávez, mas com a figura onipresente, em meio a uma crise econômica e a uma violência criminosa que desencadeou uma onda de manifestações opositoras no último mês, com um saldo de 18 mortos. Com um desfile cívico-militar, o governo de Nicolás Maduro lembrará na quarta-feira (5/3), dia 5 de março, o primeiro aniversário da morte do líder da "revolução socialista do século XXI" na Venezuela, num momento em que também se completa um mês de protestos de rua contra seu herdeiro político, para quem seus simpatizantes pedem tempo porque está "aprendendo a governar".



Como nunca antes em 15 anos de chavismo, os venezuelanos fazem longas filas nos supermercados, e, às vezes, há confusão quando aparecem produtos como farinha, pão, óleo, açúcar ou papel higiênico. Diante das dificuldades econômicas, Maduro ordenou baixas forçadas, decretou um máximo de 30% de lucro para todos os setores produtivos - reforçando o controle de preços iniciado por Chávez em 2003 -, mas, por outro lado, se viu obrigado a flexibilizar o mercado cambial para facilitar divisas a importadores.

Diferentemente de Chávez, Maduro colocou o combate à violência (que gera 65 mortes diárias, segundo uma ONG) como principal tema em seu governo, lançando o movimento pela paz e pela vida, entre outros planos. No entanto, a criminalidade foi o detonador dos protestos estudantis em San Cristóbal (ocidente) no dia 4 de fevereiro, e que uma semana depois se ampliaram a cidades como Caracas, Valência, Maracay e Mérida, somando reclamações pela deterioração econômica.

Disciplina militar


O governador chavista de Táchira (cuja capital é San Cristóbal), José Vielma Mora, criticou a repressão nas manifestações e a captura do líder opositor Leopoldo López, preso desde 18 de fevereiro acusado de instigar a violência com sua convocação a protestar pedindo a saída de Maduro.
Mas o incidente não ganhou espaço. "Claramente à luz do dia as divisões (que possam existir dentro do governismo) não são vistas porque o chavismo nisso é muito disciplinado e tentam se mostrar unidos", afirma a historiadora Margarita López Maya.

Neste ano o presidente também cerrou fileiras com o chefe do Parlamento e ex-militar Diosdado Cabello, visto como líder da ala radical do chavismo e ligado aos militares. Além disso, os militares ganharam espaço no aparato estatal bolivariano: agora têm um canal de televisão, um banco, e muitos oficiais adicionais em cargos públicos, em especial na área financeira.

O presidente Maduro, cuja profissão antes da política era motorista de ônibus - diferentemente do tenente-coronel Chávez -, também adotou a terminologia bélica para falar de seu governo revolucionário. Assim, os membros parecem ter deixado de lado as reuniões de gabinete para se reunir em postos de comando para preparar as batalhas e as ofensivas que levem à vitória na guerra contra a burguesia, o império ou os inimigos fascistas. E os atos públicos agora terminam com o lema: "Chávez vive, a luta segue".