Agência France-Presse
postado em 06/03/2014 13:01
Paris - O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy levará aos tribunais a divulgação de gravações realizadas sem que ele soubesse por um de seus ex-conselheiros, em uma tentativa de impedir novas revelações que prejudiquem seu retorno à política. Segundo amigos, Sarkozy está furioso com o ex-conselheiro, Patrick Buisson, que recomendou ao ex-presidente uma estratégia de "direitização" da campanha de reeleição em 2012, mas que terminou com derrota nas urnas.Os advogados do ex-presidente anunciaram que Sarkozy e sua esposa Carla Bruni apresentarão em breve uma demanda em caráter de urgência ao tribunal de grande instância de Paris por violação de sua vida privada. "O casal não pode aceitar que estas declarações, feitas na intimidade, tenham sido gravadas e divulgadas sem seu consentimento. A proteção do sigilo das conversas privadas é uma das bases de uma sociedade democrática", afirmam Thierry Herzog e Richard Malka em um comunicado.
Sarkozy e Bruni querem conter a divulgação das gravações com o argumento um atentado contra a intimidade. A ação judicial também abordaria a questão da conservação das gravações e sua difusão pública. Os atos podem resultar em uma pena de um ano de prisão e 45.000 euros de multa.
Buisson, que afirma não possuir mais as fitas gravadas, anunciou que pretende iniciar um processo por roubo. Seu filho, Georges Buisson, afirmou à revista Le Point que o pai não é responsável pelos vazamentos. O ex-conselheiro teria gravado centenas de horas de conversas em 2011 e em 2012, antes das últimas eleições presidenciais, vencidas pelo socialista François Hollande.
A divulgação da primeira parte das gravações aconteceu na quarta-feira pela revista satírica Le Canard encha;né e pelo site Atlantico. Sarkozy pode denunciar a traição de um homem, mas "não poderá escapar do ridículo destas revelações nem do clima prejudicial que se desprende delas", afirma o jornal Le Monde.
O escândalo pode dificultar o possível retorno ao primeiro plano da política de Sarkozy. Apesar de ter afirmado que ninguém o veria novamente em caso de derrota nas presidenciais de 2012, Sarkozy intensificou nos últimos meses as aparições públicas. Analistas acreditam que seu objetivo seria disputar a eleição presidencial de 2017, na qual desejaria aparecer como um homem providencial para seu partido, a UMP, abalado por divisões internas e conflitos pessoais.
Atualmente, o partido não tem um projeto político alternativo à maioria socialista. Alguns cientistas políticos, no entanto, consideram que o caso Buisson favorece os interesses do ex-presidente por reforçar a imagem de vítima. Ao mesmo tempo, parte da imprensa está surpresa com a "ingenuidade" de Sarkozy, que parece um "novato" neste caso.