Agência France-Presse
postado em 08/03/2014 09:10
Moscou - A Rússia está aberta a um diálogo sobre Ucrânia "honesto, de igual para igual", com as potências estrangeiras, declarou neste sábado (8/3) o chanceler russo Sergei Lavrov, enquanto a tensão prossegue na Crimeia. "Estamos abertos a um diálogo honesto, de igual para igual e objetivo com os nossos parceiros internacionais para encontrar uma maneira de ajudar toda a Ucrânia a sair da crise", afirmou Lavrov, em clara referência ao Ocidente, durante uma coletiva de imprensa em Moscou com o seu colega tadjique.
"Estamos prontos para continuar o diálogo, desde que seja um diálogo honesto entre parceiros iguais", insistiu, acrescentando que "esta crise não foi causada por nós, ela foi provocada, apesar de nossas repetidas advertências".
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O chefe da diplomacia russa lançou um novo ataque contra o governo ucraniano que assumiu o poder após a destituição do presidente Victor Yanukovytch, dizendo que o terror e o caos reinam no país. "Este chamado governo interino não é independente, infelizmente depende dos nacionalistas radicais que tomaram o poder pela força".
Neste sentido, Lavrov pediu uma investigação da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) sobre os responsáveis pelas mortes, no mês passado, de dezenas de pessoas em Kiev, mortas a tiros em meio às manifestações por atiradores.
O ministro russo fez este pedido após a divulgação, esta semana, de uma conversa telefônica entre a representante da diplomacia europeia, Catherine Ashton, e o chefe da diplomacia da Estônia, na qual este último indica que a oposição ucraniana ao presidente Yanukovytch poderia estar envolvida nesses ataques. "As últimas informações sobre este caso não podem ser escondidas", insistiu Lavrov. "Nós propomos que a OSCE lance uma investigação objetiva sobre esta questão", acrescentou.
Mobilização pró-Moscou em Donetsk
Em meio à tensão, partidários da Rússia se mobilizaram neste sábado nas ruas de Donetsk, reduto de língua russa no leste da Ucrânia, enquanto as tensões continuam latentes entre soldados ucranianos e as forças russas que controlam a Crimeia, onde o Parlamento local desafia a autoridade de Kiev.
Mais de mil manifestantes se reuniram no início da tarde na praça Lenin de Donetsk, exibindo bandeiras da "Rússia de Kiev", berço histórico dos estados eslavos da Ucrânia, Rússia e Belarus. "Somos pessoas pacíficas, queremos paz", declarou à AFP Larissa Kukovina, uma aposentada que foi manifestar. "Queremos um referendo para nos juntarmos à Rússia, porque nós sabemos que o nível de vida é bem mais alto lá do que aqui. Aqui estamos na miséria", afirmou.
Donetsk, capital da região carbonífera de Donbass, na fronteira com a Rússia, registra há vários dias tensões entre partidários de Moscou e defensores da unidade da Ucrânia. Os partidários de Moscou ocuparam por três dias as sedes da administração regional.
Sinal de que as autoridades levam esta ameaça a sério, a justiça ucraniana abriu uma investigação sobre "atentado à integridade nacional" contra Pavel Goubarev, um empresário local que se tornou líder dos pró-russos, assim como contra os líderes da Crimeia que pediram a anexação da região à Rússia.
Grupos de contato
No plano político, apesar das intensas consultas, ocidentais e russos não conseguiram chegar a uma solução para a crise que culminou com a tomada do controle da Crimeia pelas forças russas. Kiev reiterou estar "pronto para contatos em todos os níveis" com Moscou, e o novo governo evocou a criação de um "grupo de contato com os europeus e a Rússia para encontrar uma saída para a crise. "Há uma compreensão pelos russos da necessidade de criar um grupo de contato", afirmou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Dechtchitsa.
Sexta-feira à noite, o presidente americano Barack Obama e a chanceler alemã Angela Merkel conversaram por telefone sobre "a necessidade da Rússia aceitar rapidamente a formação de um grupo de contato", de acordo com a Casa Branca.
Mas, sinal de que este avanço diplomático pode estar distante, o ministério da Defesa russo anunciou neste sábado que estuda suspender as inspeções estrangeiras de seu arsenal de armas estratégicas, incluindo os mísseis nucleares, em resposta às ameaças dos Estados Unidos e da Otan à respeito da crise na Ucrânia. "Nós interpretamos como um gesto hostil as ameaças infundadas dos Estados Unidos e da Otan contra a Rússia sobre sua política em relação à Ucrânia, e isto permite a declaração de circunstâncias de força maior", declarou um funcionário do ministério que não quis se identificar, em um comunicado às agências russas.