Mundo

Opositores desafiam Caracas e fazem panelaço contra escassez de produtos

A passeata tinha como destino o Ministério da Alimentação, mas pôde se concentrar apenas em uma avenida próxima

Agência France-Presse
postado em 08/03/2014 20:34
Caracas - Milhares de opositores fizeram um "panelaço", neste sábado, pelo centro de Caracas, de maioria chavista, contra a escassez de produtos no país.

O protesto foi convocado pelo líder da oposição Henrique Capriles, que percorreu meio quilômetro ao lado de seus simpatizantes em uma manifestação fortemente acompanhada por efetivos policiais e militares. Blindados antimotim bloquearam ruas próximas.

A passeata tinha como destino o Ministério da Alimentação, mas pôde se concentrar apenas em uma avenida próxima

"Estamos marchando pela escassez, em que esse governo nos colocou", disse Capriles à AFP, enquanto caminhava no meio da multidão, entre saudações e abraços.

"Eles dão as costas para os problemas (...) O que interessa (ao governo) é uma confrontação entre venezuelanos e nisso não estamos de acordo", acrescentou Capriles.

A passeata tinha como destino o Ministério da Alimentação, mas pôde se concentrar apenas em uma avenida próxima, devido à proibição do prefeito do município Libertador, o chavista Jorge Rodríguez, onde fica a Pasta, e diante a presença dos chamados "coletivos motorizados" chavistas. Esses grupos são acusados, pela oposição, de atuarem como paramilitares.

[SAIBAMAIS]

"Não consigo leite, manteiga, nem fraldas, nem farinha. Não posso sair na rua por medo da insegurança", desabafou a dona de casa Alexandra Fernández, de 39, que vive em uma área do centro de Caracas, enquanto bate com força sua panela, a exemplo dos outros manifestantes presentes no panelaço.

"Agora, eu me dedico a isso: a comprar. Saio às sete da manhã e percorro as lojas, fico na fila duas, três horas e volto para minha casa à tarde. Compro para minhas irmãs e mando para minha mãe", conta a também dona de casa Rosa María.

As passeatas, que não foram transmitidas por nenhuma emissora de televisão nacional, também aconteceram em pelo menos outras dez cidades, entre elas Maracaibo e San Cristóbal (oeste), Valencia (norte), Isla de Margarita (nordeste) e Puerto Ordaz (sul).

O protesto deste sábado teve como pano de fundo as acusações de Capriles contra o presidente Nicolás Maduro - de que ele estaria incitando uma "confrontação povo contra povo" -, depois que Maduro convocou seus militantes, em um inflamado discurso, a "fazer valer a ordem (...)".

Do lado oficialista, Maduro anunciou em sua conta no Twitter que este sábado seria um "grande dia nacional com as mulheres", na Praça Bolívar de Caracas.

Além de Capriles, outros líderes da oposição também participaram do ato, como o prefeito metropolitano, Antonio Ledezma. Junto com Leopoldo López, que está preso, e com a deputada María Corina Machado, Ledezma integra o trio promotor da estratégia de ocupar as ruas para forçar a renúncia de Maduro.

Apesar de apoiar a tomada das ruas, Capriles se afastou, abertamente, da tática radical de pedir a renúncia do presidente, alegando que "não estão dadas as condições para pressionar a saída do governo".

"Capriles era muito relutante à mobilização, porque você sabe como começa, mas não como termina", comentou a analista política Mercedes Pulido de Briceño, catedrática da Universidade Católica.

Para Mercedes, a marcha dos "panelaços" é uma oportunidade para que setores populares, que mantêm "protestos silenciosos", conectem-se com a oposição e saiam às ruas para se manifestar sem medo de represálias das "milícias".

Leia mais notícias em Mundo

Nas últimas semanas, Capriles defendeu a importância de incorporar os moradores dos bairros populares aos protestos, caso a oposição queira derrubar o governo de Maduro pela via constitucional. Na passeata deste sábado, muitos opositores eram dessas áreas, constatou a AFP.

"A escassez e a inflação são os aspectos sociais mais críticos, com poucas expectativas de que possam ser resolvidos em curto prazo", acrescentou a analista.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação