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Novo primeiro-ministro da Crimeia é um empresário fiel à Rússia

Sergei Aksyonov prosperou após o desaparecimento da União Soviética e agora quer devolver esta península ucraniana à órbita russa

Agência France-Presse
postado em 12/03/2014 12:07
Simferopol - Sergei Aksyonov, o novo primeiro-ministro da Crimeia, é um empresário de passado obscuro, que prosperou após o desaparecimento da União Soviética e que agora quer devolver esta península ucraniana à órbita russa. Chamado de "O Duende", Aksyonov foi nomeado primeiro-ministro em uma sessão extraordinária do Parlamento da Crimeia em fevereiro, depois que as forças armadas russas tomaram o controle dos edifícios públicos e dos pontos-chave desta região.

[SAIBAMAIS]Pouco se sabe do passado deste homem de 41 anos, que nega ter formado parte de um grupo criminoso que atuava na Crimeia nos anos 1990. Por trás de seu aspecto de homem atlético, com nariz de boxeador e sempre cercado de guarda-costas com aspecto rude, se esconde um bom orador, como demonstrou no domingo passado em Simferopol, a capital da Crimeia, onde a frota russa no Mar Negro está ancorada.



Este território, de população majoritariamente de língua russa, formou parte da Rússia até 1954, quando se converteu em uma região autônoma na Ucrânia, que em 1991 se tornou independente após o desaparecimento da URSS. "Superaremos a adversidade e todos os obstáculos, e restauraremos a justiça histórica", declarou Aksyonov no domingo diante de cerca de 10 mil pessoas reunidas em Simferopol, muitas delas carregando bandeiras russas. "Junto à Rússia construiremos nosso futuro", gritou diante da multidão, que respondia com gritos de "Hurra! Hurra".

Aksyonov é o líder da campanha a favor da anexação da Crimeia à Rússia, que no próximo domingo será submetida a referendo, uma consulta considerada ilegal pelas novas autoridades pró-ocidentais de Kiev. O novo primeiro-ministro também foi nomeado chefe de Estado-Maior na Crimeia e afirma que, se sua anexação for aprovada, suas forças entrarão para formar parte do exército russo. Na segunda-feira cerca de 200 membros das milícias pró-russas prestaram juramento como soldados da Crimeia. Segundo Aksyonov, em caso de independência a Crimeia abandonaria a grivna, a moeda ucraniana, e adotaria o rublo, a moeda russa.

Coletes à prova de balas

Nascido em 1972 na Moldávia, na época sob controle soviético, Sergei Aksyonov foi empresário durante os anos 1990 em Simferopol, com interesses no setor imobiliário e da alimentação, num momento em que o capitalismo começava a se expandir na antiga URSS. Em 2009 iniciou sua carreira na política, convertendo-se em ativista de três organizações pró-russas, segundo o centro de investigações jornalísticas de Simferopol, uma organização financiada com fundos britânicos e americanos.

Um destes grupos se converteu em 2010 no partido Unidade Russa, do qual é líder, mas que nas eleições regionais do ano passado obteve apenas 4% dos votos. Segundo Gennadiy Moska, um veterano deputado ucraniano, é evidente que o objetivo da investidura de Aksyonov é a de realizar uma separação "como a de Transnístria ou Kosovo".

Segundo o deputado, o pai de Aksyonov é o líder da comunidade russa de Transnístria, um território separatista não reconhecido da Moldávia que tem o apoio de Moscou. Em 2010, o agora primeiro-ministro denunciou por difamação Mykhailo Bakharev, um político ucraniano que o acusou de ter formado parte de um grupo criminoso em Simferopol chamado Salem, segundo o centro de investigações jornalísticas. Aksyonov terminou derrotado nos tribunais.

Em caso de vitória no referendo de domingo, não está claro qual será o papel de Aksyonov, que costuma aparecer em público com um colete à prova de balas e que dirige a federação local de luta greco-romana. Os ucranianos e os tártaros que vivem na Crimeia temem que seu futuro, com ou sem Aksyonov, se torne mais obscuro se a península terminar formando parte da Rússia.

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