Agência France-Presse
postado em 12/03/2014 14:24
Estudantes e opositores venezuelanos voltam a desafiar o governo nesta quarta-feira (12/3) com uma marcha pelo centro de Caracas, proibida por Nicolás Maduro e que pode coincidir com uma manifestação chavista, em meio à tensão vivida na Venezuela há mais de um mês e que será analisada pela Unasul.Sob o lema "Movimento estudantil marcha contra a impunidade", a mobilização é promovida por líderes estudantis como Juan Requesens, da Universidade Central, e dirigentes políticos opositores, como a deputada María Corina Machado e o prefeito da Grande Caracas, Antonio Ledezma.
O protesto opositor busca chegar até a sede da Defensoria do Povo, no centro de Caracas, onde pode cruzar com outra manifestação estudantil, do governismo, convocada pelo ministro da Educação Héctor Rodríguez sob o lema "pela paz e pela vida".
Os governistas contam com o aval do município chavista de Libertador; sobre os opositores pesa a proibição de Maduro para protestar enquanto a oposição se negar a dialogar.
Nesta quarta-feira completa um mês do início das manifestações opositoras em Caracas, algumas delas com dezenas de milhares de pessoas, que tiveram como reivindicação inicial a insegurança que atinge a Venezuela, mas que agora reúnem denúncias como a inflação anual de 56%, a escassez de produtos básicos, a repressão das forças policiais e a detenção de ativistas.
Os protestos, iniciados no dia 4 de fevereiro na cidade de San Cristóbal (oeste) por estudantes que protestaram após a tentativa de estupro de uma estudante, se estenderam a diferentes localidades e deixam até o momento 21 mortos e centenas de feridos em diferentes incidentes violentos.
- Disputa pelo centro -
"Não vou deixá-los entrar (no centro). Sei que vêm com um plano violento (...) seria louco se permitisse isso", advertiu o presidente na noite de terça-feira durante a estreia de seu programa de rádio "Em contato com Maduro", ao se referir à manifestação opositora.
Ao menos três protestos da oposição tentaram transitar recentemente pelo centro de Caracas, mas foram bloqueados com fortes dispositivos de segurança.
"Dizemos muito claro ao país: nesta quarta-feira chegaremos à Defensoria do Povo e não vale a pena fazer piquetes, sempre sob a luta não violenta", desafiou na terça-feira o líder estudantil Carlos Vargas.
Os opositores exigirão a renúncia da defensora do povo Gabriela Ramírez, que na semana passada ressaltou a necessidade de investigar e distinguir os casos de maus-tratos e torturas policiais nos protestos, algo interpretado por alguns meios de comunicação locais como um apoio às violações de direitos humanos.
[SAIBAMAIS]"A marcha do dia de hoje está sustentada na grande mentira de que eu endosso ou sou cúmplice de torturas. É uma mentira", declarou Ramírez em declarações à União Rádio ao afirmar, no entanto, que está aberta ao diálogo e se comprometeu a enviar uma comissão a algum ponto do protesto.
Por sua vez, a marcha governista terá expressões distintas, com um show e homenagens ao falecido presidente Hugo Chávez, e chegará à sede do Ministério Público, onde no dia 12 de fevereiro, após a primeira grande mobilização opositora, ocorreu um confronto que deixou as duas primeiras vítimas fatais.
- Discussão na Unasul -
O caso da Venezuela foi discutido em fóruns internacionais, como a Comissão de Direitos Humanos da ONU, enquanto na OEA o Panamá propôs sem sucesso uma reunião de chanceleres, o que provocou a condenação de Maduro e levou à ruptura de relações diplomáticas e comerciais com este país.
Já a Venezuela deu sua aprovação a um encontro de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas nesta quarta-feira em Santiago - com a presença do chanceler Elías Jaua - que buscará promover o diálogo entre as partes em conflito.
"A comissão que a Unasul eleger para vir acompanhar e fortalecer o processo de diálogo nacional é bem-vinda", disse Maduro na terça-feira (11/3).