Mundo

Manifestantes enfrentam policiais em Caracas; Unasul avalia crise

Sob o lema "Movimento estudantil marcha contra a impunidade", a passeata tinha como destino final a sede da Defensoria Pública

Agência France-Presse
postado em 12/03/2014 20:00
Estudantes venezuelanos e ativistas em confronto com a polícia de choque durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro
Estudantes e policiais se enfrentaram nesta quarta-feira no centro de Caracas, durante mais uma manifestação contra o governo do presidente Nicolas Maduro, abalado por uma onda protestos iniciada há um mês.

O confronto teve início quando cerca de 3 mil estudantes foram interpelados por cerca de 300 policiais de choque, que bloquearam seu avanço em direção à Praça Venezuela, onde havia uma concentração de chavistas, constatou um jornalista da AFP.

Sob o lema "Movimento estudantil marcha contra a impunidade", a passeata tinha como destino final a sede da Defensoria Pública.

Dirigentes estudantis e políticos opositores - como David Smolansky, prefeito de El Hatillo - tentaram dialogar com os policiais, que negaram a passagem. Grupos de jovens passaram, então, a jogar pedras contra a polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d;água, dispersando a maior parte dos manifestantes.

O presidente Nicolás Maduro avisou, na terça-feira, que o protesto não teria autorização diante da negativa da oposição de dialogar.

No centro de Caracas, jovens vestidos de vermelho (a cor do chavismo) marcharam em apoio ao governo, sob o lema "Pela paz e pela vida".

No Estado de Carabobo, norte do país, três pessoas morreram nesta quarta durante os protestos contra o governo, elevando a 24 o número de óbitos desde o início das manifestações, há um mês, informaram as autoridades locais.

Duas vítimas - um estudante e um civil - morreram durante manifestações na localidade de La Isabelica, em Valencia (capital de Carabobo), enquanto um membro da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) faleceu no município de Naguanagua.

Segundo o governador "chavista" de Carabobo, "franco-atiradores dispararam contra sua própria gente que armava uma barricada na rua (em La Isabelica), deixando um morto e vários feridos".

Mas a imprensa local afirma que o jovem Jesús Acosta, 20 anos e estudante da Universidade de Carabobo, foi morto por um tiro na cabeça quando estava próximo a sua casa em La Isabelica, distante dos protestos.

Leia mais notícia em Mundo

O prefeito opositor de Valencia, Miguel Cocchiola, informou que a segunda vítima em La Isabelica foi Guillermo Sánchez, 42 anos, "vítima de um disparo" quando estava diante de sua casa.

O guarda nacional morto em Naguanagua era o capitão Ramso Ernesto Bracho Bravo, também baleado. As manifestações na Venezuela, que começaram há exatamente um mês, já deixaram 24 mortos.

Esta quarta-feira marcou um mês do início dos protestos opositores na Venezuela, alguns reunindo dezenas de milhares de pessoas, que tiveram como reivindicação inicial a insegurança que atinge o país, mas que agora envolvem a inflação anual de 56%, a escassez de produtos básicos, a repressão das forças policiais e a detenção de ativistas.

Os protestos, iniciados no dia 4 de fevereiro na cidade de San Cristóbal (oeste) por estudantes revoltados após a tentativa de estupro de uma jovem, se estenderam a diferentes localidades do país. A última das 22 vítimas fatais morreu baleada nesta quarta-feira na cidade de Valencia (oeste).

Disputa pelo centro

"Não vou deixá-los entrar (no centro). Sei que vêm com um plano violento (...) seria louco se permitisse isso", advertiu o presidente na noite de terça-feira durante a estreia de seu programa de rádio "Em contato com Maduro", ao se referir à manifestação opositora.

Ao menos três protestos da oposição tentaram transitar recentemente pelo centro de Caracas, mas foram bloqueados com fortes dispositivos de segurança.

"Dizemos muito claro ao país: nesta quarta-feira chegaremos à Defensoria do Povo e não vale a pena fazer piquetes, sempre sob a luta não violenta", desafiou na véspera o líder estudantil Carlos Vargas.

Os opositores exigem a renúncia da defensora do povo Gabriela Ramírez, que na semana passada ressaltou a necessidade de investigar e distinguir os casos de maus-tratos e torturas policiais nos protestos, algo interpretado por alguns meios de comunicação como um apoio às violações de direitos humanos.

"A marcha do dia de hoje está sustentada na grande mentira de que eu endosso ou sou cúmplice de torturas. É uma mentira", declarou Ramírez à União Rádio ao afirmar, no entanto, que está aberta ao diálogo e se comprometeu a enviar uma comissão a algum ponto do protesto.

Discussão na Unasul

O caso da Venezuela foi discutido em fóruns internacionais, como a Comissão de Direitos Humanos da ONU, enquanto na OEA o Panamá propôs sem sucesso uma reunião de chanceleres, o que provocou a condenação de Maduro e levou à ruptura de relações diplomáticas e comerciais com este país.

Já o governo venezuelano deu sua aprovação a um encontro de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas nesta quarta-feira em Santiago - com a presença do chanceler Elías Jaua - que buscará promover o diálogo entre as partes em conflito.

"A comissão que a Unasul eleger para vir acompanhar e fortalecer o processo de diálogo nacional é bem-vinda", disse Maduro na terça-feira.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação