postado em 14/03/2014 09:45
A escassez de produtos da cesta básica na Venezuela tem levado a população a criar alternativas para driblar a carência de alguns produtos. Substituição e troca de alimentos, além de compras no mercado ilegal, são algumas medidas adotadas pelos venezuelanos.O índice de escassez, calculado pelo Banco Central da Venezuela (BCV), manteve-se na faixa de 20% no ano passado. O relatório de janeiro de 2014 apontou um índice de 26,2%, demonstrando que a situação se tornou parte do cotidiano da população. De maneira geral, os produtos mais escassos são justamente os da cesta básica, como o açúcar, o leite, a carne, o arroz, o frango, o papel higiênico, o óleo, o sabonete, o sabão em pó e o creme dental.
Para conhecer o dia a dia dos venezuelanos, a Agência Brasil conversou com moradores de Caracas, capital, e de San Cristóbal, Táchira, na Região Andina. Alguns habitantes de Táchira, estado fronteiriço com a Colômbia, dizem que mudaram hábitos alimentares e começaram a substituir produtos.
A dona de casa Jéssica Maldonado destacou que o cardápio do café da manhã da família, por exemplo, varia conforme o que se encontra para a compra. Ela conta que já não come arepa diariamente - uma espécie de pão cozido de farinha de milho branco, tradicional no café da manhã do país. Jéssica acrescentou que compra produtos regulados - com preços tabelados e subsidiados pelo governo - nos supermercados estatais e conveniados.
Quando não encontra produtos com preços regulados, nem sempre consegue pagar pelos vendidos no mercado ilegal. ;O preço sobe até 30 vezes;, ressaltou. Com relação às mudanças no cardápio, ela disse que a família acabou se acostumando. ;Tem dia que comemos mandioca cozida no café da manhã ou, então, tomamos sopa, algo que fazem por aqui, mas que não fazíamos em casa. E eu controlo bem o que tem para comer, para não faltar.
Dá medo de um dia chegar na fila do mercado e não conseguir comprar nada. Até sonho com isso;. Além de alterar a rotina familiar, a escassez impacta no setor comercial e afeta empresas e fábricas de alimentos, especialmente panificadoras e restaurantes. A dona de uma padaria na rodoviária de San Cristóbal, que não quis se identificar, relatou suas dificuldades.
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;Quase não estamos conseguindo comprar farinha. O que chega aos supermercados é controlado para a venda individual e as remessas para o comércio têm demorado a chegar e, quando chegam, são insuficientes para atender todos os comerciantes;. Segundo a comerciante, não é possível comprar farinha em quantidade suficiente para a produção no mercado ilegal. ;Mesmo que tivesse a quantidade que precisamos seria impossível, porque o produto é contrabandeado ou vendido irregularmente, é caríssimo;, explica.
Ela disse que um problema é a falta de regularidade na chegada do produto. ;Não podemos nos planejar com uma produção feita de forma irregular e acabamos demitindo funcionários;, lamenta. Em Caracas, comerciantes privados também reclamam de dificuldades em manter estoques de produtos, como remédios e alimentos da cesta básica, embora, com relação aos insumos para produção em padarias, por exemplo, não se note de forma tão nítida, quanto no interior.
Entretanto, os preços estão altos e são remarcados semanalmente. Na capital, os moradores falam da dificuldade de comprar leite, café, açúcar, farinha, papel higiênico, carne e frango. Há problemas tanto na rede privada, quanto nos mercados estatais. "Não é que não tem nada aqui. Eu compro no Mercal - mercado estatal subsidiado - e toda semana tem. Mas não chega em quantidade e temos que comprar pouco e enfrentar filas", conta a ambulante María del Rosario.
Com as dificuldades, na cidade também acontece a troca de mercadorias. O taxista Ángel Muñoz, 54 anos, disse que se acostumou a fazer permutas com vizinhos. Ele disse que às vezes troca café por leite em pó e farinha de arepa. ;Esta semana, depois de quase um mês sem ter café em casa, trocamos meio quilo de leite em pó por café;. Ángel ressaltou que está cansado da situação. Ele conta que desde o início do governo de Hugo Chávez apoiava as mudanças implementadas por acreditar que a população mais pobre estava sendo amparada pelas políticas sociais do governo. ;Chávez redistribuiu a renda no país e fez com que gente muito pobre, que nem sequer comia, começasse a ter três refeições por dia. Isso não é propaganda política. De fato aconteceu;, comentou.