A Crimeia proclamou nesta segunda-feira (17/3) sua independência da Ucrânia e pediu oficialmente sua integração à Rússia, sem o consentimento da comunidade internacional nem de Kiev, que ordenou a mobilização de suas Forças Armadas. O Parlamento da Crimeia aprovou por unanimidade a anexação à Rússia e a nacionalização de todos os bens do Estado ucraniano em seu território, depois da vitória esmagadora dos partidários da adesão em um referendo no domingo.
Os países ocidentais, que criticaram a consulta, pretendem adotar sanções contra Moscou. O presidente russo, Vladimir Putin, discursará na terça-feira sobre a Crimeia no Parlamento russo. A Comissão Eleitoral anunciou o resultado final do referendo, com 96,77% de apoio à integração. Pouco antes, o primeiro-ministro da Crimeia, Serguei Axionov, havia anunciado 96,6% de votos favoráveis.
A participação na consulta foi de 81%, segundo as autoridades locais. Em uma sessão celebrada durante a manhã, o Parlamento da Crimeia aprovou por unanimidade a independência da península da Ucrânia e sua reunificação com a Rússia, da qual fez parte até 1954.
[SAIBAMAIS]
Os 85 deputados aprovaram também a nacionalização de todos os bens do Estado ucraniano no território, a adoção do rublo como moeda oficial ao lado da grivna e o desmantelamento das unidades militares ucranianas. "A república da Crimeia pede às Nações Unidas e a todos os países do mundo seu reconhecimento como Estado independente", afirma o texto aprovado pelo Parlamento em Simferopol, capital do território.
"A Crimeia pede à Rússia que a aceite como um de seus membros", completa. Uma delegação do Parlamento da Crimeia viaja nesta segunda-feira a Moscou, onde o Parlamento russo pretende votar na sexta-feira a integração da península à Federação Russa.
"Voamos para Moscou", anunciou Axionov no Twitter. A Rússia concedeu uma ajuda de 15 bilhões de rublos para a Crimeia, equivalente a 410 milhões de dólares, anunciou o premier também no Twitter.
Fuso horário de Moscou
O documento aprovado pelo Parlamento em Simferopol afirma que as leis ucranianas não são mais aplicadas na Crimeia e que o governo de Kiev já não tem nenhuma autoridade sobre a península.
O presidente do Parlamento da Crimeia, Volodimir Konstantinov, anunciou a dissolução de todas as unidades militares ucranianas com base na península e indicou que os soldados ucranianos leais a Kiev deverão abandonar a península.
O primeiro-ministro da região anunciou uma alteração no fuso horário na península a partir de 30 de março, que passará ao horário de Moscou (GMT%2b4), duas horas antes da hora de Kiev atualmente em vigor.
Em Kiev, o Parlamento ucraniano aprovou ao mesmo tempo a mobilização parcial das tropas para enfrentar a "ingerência da Rússia nos assuntos internos da Ucrânia", a pedido do presidente interino, Olexander Turchynov.
Os deputados também aprovaram a utilização de 6,9 bilhões de grivnas adicionais (530 milhões de euros) para garantir a capacidade de combate das Forças Armadas. O ministro ucraniano da Defesa, Igor Teniukh, afirmou que as tropas do país permanecerão na Crimeia.
Sanções
Em Bruxelas, os ministros europeus das Relações Exteriores estão dispostos a impor sanções contra autoridades russas e ucranianas pró-Moscou envolvidas na intervenção russa na Crimeia. A UE considera o referendo "ilegal e ilegítimo" e não reconhece o resultado. "Estamos procurando enviar a mensagem mais forte possível à Rússia", disse a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também citou eventuais sanções contra Moscou e advertiu seu colega russo, Vladimir Putin, que Washington e seus aliados "nunca" reconhecerão o referendo de domingo. A Turquia anunciou que também não reconhece o referendo. A Rússia, por sua parte, anunciou o envio há uma semana de várias propostas à UE e aos Estados Unidos, como a formação de um grupo internacional de "apoio" à Ucrânia para ajudar o país a "sair da crise", mas impôs como condição a declaração do russo como segunda língua oficial no país e o isolamento dos movimentos ultranacionalistas.
A Ucrânia representa a crise diplomática mais importante entre as grandes potências desde o fim da União Soviética, em 1991. As atuais autoridades da península chegaram ao poder em Simferopol depois da destituição em Kiev, em 22 de fevereiro, do presidente Viktor Yanukovytch após quatro meses de protestos na capital do país. "Voltamos para casa", afirmou no domingo o primeiro-ministro da Crimeia.
A Rússia cedeu a Crimeia para a Ucrânia em 1954, quando as duas repúblicas integravam a URSS. Moscou, no entanto, sempre manteve a base de sua frota do Mar Negro no porto local de Sebastopol.