Caracas - O chavismo lançou nas últimas horas uma ofensiva judicial contra uma deputada e dois prefeitos da oposição radical, apesar dos contínuos apelos por diálogo feitos pelo presidente Nicolás Maduro em meio aos protestos que sacodem a Venezuela há um mês e meio.
O prefeito de San Cristóbal - capital do estado de Táchira e foco da onda de protestos que sacode a Venezuela - foi detido na quarta-feira pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) por fomentar uma "rebelião civil" e instigar à violência, informou o ministro do Interior, Miguel Rodríguez.
Leia mais notícias em Mundo
O ministro do Interior, Miguel Rodríguez Torres, explicou que as detenções feitas na noite de quarta-feira de Daniel Ceballos, prefeito de San Cristóbal (estado de Táchira, oeste), do prefeito alcalde de San Diego (Carabobo, norte), Enzo Scarano, aconteceram como parte de ações para evitar desordens públicas nos protestos.
"Isto é um ato de justiça diante de um prefeito que não apenas deixou de cumprir as obrigações que a lei e a Constituição impõem, mas que facilitou e apoiou toda a violência irracional que desencadeada na cidade de San Cristóbal", afirmou o ministro.
Rodríguez Torres informou que ambos foram levados para a prisão militar de Ramo Verde, no subúrbio de Caracas, e que o prefeito de San Diego foi condenado a 10 meses de prisão e teve seus direitos políticos cassados.
A reação não demorou entre os líderes da oposição.
Essa ofensiva contrasta com o apelo ao diálogo nacional que Maduro tem feito há várias semanas para a oposição, que condiciona sua participação ao cumprimento de uma série de condições pelo governo, entre elas a libertação das mais de 100 pessoas que permanecem detidas por episódios de violência ligados aos protestos.
O líder opositor Henrique Capriles acusou Maduro de colocar fogo na situação e disse que o presidente "será responsável pelo que acontecer no país".
Protestos foram registrados nesta quinta-feira em praças da cidade de San Diego e houve alguns confrontos entre policiais e manifestantes.
As duas detenções são parte da ofensiva judicial do chavismo contra os opositores.
Maduro acusa os líderes opositores de promoverem "um golpe de Estado" com os protestos contra a insegurança, a falta de produtos e a inflação.
Em um mês e meio, 30 pessoas morreram nos protestos na Venezuela.
Na terça-feira, a maioria chavista da Assembleia Nacional aprovou um pedido de investigação da Procuradoria contra a deputada opositora María Corina Machado, também acusada de promover a violência na onda de protestos.
Líderes opositores detidos
Daniel Ceballos é o segundo dirigente da Vontade Popular a ser detido por promover a violência na onda de protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro, iniciada em San Cristóbal no dia 4 de fevereiro.
[SAIBAMAIS]Leopoldo López, principal liderança da Vontade Popular, está em uma prisão militar desde 18 de fevereiro, também por promover a violência ligada aos protestos.
Rodríguez explicou que o Sebin realizará a "respectiva apresentação (de Ceballos) ao tribunal".
María Machado e Leopoldo López são os principais promotores da "Saída", a estratégia de ocupar as ruas da Venezuela para obter o fim do governo de Nicolás Maduro.
López, acusado inicialmente de homicídio e terrorismo, foi detido por ordem da Procuradoria sob a acusação de "incêndio intencional, instigação pública, dano à propriedade pública e formação de quadrilha".
Machado é acusada pelos deputados chavistas de "instigação ao crime, traição à pátria e homicídio".
A Venezuela vive desde o início de fevereiro um período de agitação social que já deixou 30 mortos e 400 feridos. As manifestações contra o governo de Maduro apontam diretamente para a inflação fora de controle, a falta de produtos básicos e a alta criminalidade no país.
Vários líderes políticos e estudantis convocaram "protestos pacíficos" para esta quinta em várias cidades do país, entre eles o líder opositor Henrique Capriles, "exigindo justiça e condenando as ações fascistas do governo".