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Crimeia, uma cidade militar dividida com a chegada de tropas russas

Segundo um soldado ucraniano, cerca de 20% dos 1.000 soldados da base ainda não deixaram seus postos

Agência France-Presse
postado em 21/03/2014 17:38
Atordoados e desiludidos, muitos soldados ucranianos da base de Perevalne, na Crimeia, abandonaram seus postos nesta sexta-feira (21/3), com a chegada das tropas russas, mas 200 deles resistiram.

Ameaçada pela superioridade russa, no mesmo dia em que Moscou reconheceu formalmente a península como seu território, a maior base da região a conseguir se manter com a Ucrânia após um mês de invasão baixou a bandeira nacional.

[SAIBAMAIS]Um soldado ucraniano camuflado liga para a mãe: "Não se preocupe, estou pegando minhas coisas e já volto para casa."

No mesmo momento, as tropas russas hasteiam a sua bandeira diante da entrada principal da base. Não muito longe dali, dezenas de jovens soldados russos ocupam suas posições. Eles passam pelos militares ucranianos sem dizer uma palavra.

Segundo um soldado ucraniano, cerca de 20% dos 1.000 soldados da base ainda não deixaram seus postos, 40% declararam fidelidade ao novo governo pró-russo e 40% escolheram ficar do lado da Ucrânia.

"Eu sou um dos que ficaram. Prestei juramento", afirma um jovem militar, que pede para não ser identificado, abraçando a namorada que foi visitá-lo.

A situação em Perevalne ilustra a confusão reinante em várias bases da Crimeia, onde os soldados ucranianos, mesmo cercados, podem se deslocar livremente. Em geral, as tropas ucranianas e russas se entendem bem.

Em um ponto de ônibus, uma mulher afirma que seu filho, ainda dentro da base, está bem.

"Quero uma Ucrânia livre e unida", disse ela, preferindo não se identificar. A alguns passos, cerca de cem soldados russos patrulham a área.

"Um grande país soviético"


Assim como os soldados, os 2.300 moradores da cidade, situada nas colinas ao sul de Simferopol, capital da Crimeia, estão divididos.

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"Cerca de 500 pessoas já solicitaram seu passaporte russo", afirma Galina Ivanova, uma funcionária de um centro de lazer da Prefeitura local, que se ocupa de diversas coisas: aulas de dança para crianças, curso de canto, e ainda tratamento médico para os idosos.

"Há aqueles entre os militares que querem sair, mas tudo é feito de forma calma e livre. Ninguém pressiona quem quer que seja", afirma ela. A diretora do centro, Svetlana Kolisetskaya, se diz contente de ver a Crimeia voltar a ser da Rússia. Segundo ela, "a cidade inteira" está solicitando passaportes.

"Estamos de volta à nossa pátria histórica! Nascemos na União Soviética e, agora, queremos viver em um grande país soviético: a Rússia", declara ela.

Ocupado com seu jardim, sob um sol de primavera, Andrei Rubyn, um coronel da reserva, afirma que tinha acabado de pedir um passaporte russo.

"Queremos que a Rússia nos salve da anarquia ucraniana", afirma. Ele também disse que sua pensão militar de 2 mil hryvnias por mês (138 euros) triplicará com a legislação russa.

Ele diz que os antigos companheiros da base não devem ser julgados por deserção na Ucrânia. "Estou certo de que muitos soldados amam a Ucrânia. É o nosso país natal! Mas não com o governo atual", considera.

"Eles não são traidores. Simplesmente, não sabiam o que fazer", disse. "A meu ver, eles se sentiram humilhados por seu governo autoproclamado. Lamento por eles."

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