Agência France-Presse
postado em 25/03/2014 14:16
Cerca de 50 países reforçaram nesta terça-feira, em Haia, as medidas destinadas a impedir que terroristas possam ter acesso a material nuclear que os permita fabricar um artefato capaz de disseminar substâncias radioativas.Na entrevista coletiva de encerramento dessa terceira edição da Cúpula de Segurança Nuclear (NSS), o presidente americano, Barack Obama, aplaudiu os esforços realizados e estimulou os dirigentes do mundo inteiro a cooperar estreitamente para enfrentar a ameaça de terrorismo nuclear. Para Obama, trata-se da "ameaça mais imediata e mais extrema para a segurança mundial".
"É essencial que não descansemos e que aceleremos nossos esforços nos próximos dois anos, que mantenhamos o impulso para terminarmos fortes em 2016", durante a próxima edição da cúpula, em Washington, acrescentou Obama.
Para o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, foram adotadas "medidas importantes" em relação aos três objetivos da cúpula: reduzir o número de materiais nucleares perigosos, melhorar a segurança desses materiais e ampliar a cooperação internacional.
Alguns Estados quiseram avançar nesse sentido, e 35 dos 53 países presentes concordaram em aplicar padrões internacionais mais rígidos do que os adotados no comunicado final, além de reforçar a cooperação. A iniciativa, lançada por Estados Unidos, Holanda e Coreia do Sul, foi assinada por outros 32, entre eles França, Turquia, Israel e Ucrânia.
Chile e México assinaram, mas Brasil e Argentina, não. Esses foram os únicos países da América Latina que participaram da cúpula. China e Rússia também não assinaram o documento.
Isso representa "o avanço mais importante da cúpula", comentou Miles Pomper, especialista do Centro James Martin para Estudos sobre a Não-Proliferação. "Seria necessário que todos os países que participam da cúpula também assinassem esse texto, principalmente a Rússia", frisou.
De acordo com o Grupo sobre Materiais Físseis, um grupo de especialistas em energia nuclear, "a ausência da Rússia, da China, do Paquistão e da Índia - todos eles países com arma nuclear e com uma reserva importante de materiais nucleares - enfraquece o impacto desse texto".
Outro anúncio importante da cúpula foi o compromisso do Japão de devolver aos Estados Unidos mais de 300 quilos de plutônio e quase 200 quilos de urânio altamente enriquecido recebidos de Washington e de Londres durante a Guerra Fria. Esses materiais estão armazenados em construções situadas a cerca de 140 km ao nordeste de Tóquio - um alvo fácil para os terroristas, segundo os especialistas.
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"Reenviando esses materiais nucleares, podemos prevenir o risco de ataques nucleares terroristas", afirmou o conselheiro especial para temas nucleares japonês, Yosuke Isozaki, na segunda-feira, primeira dia da cúpula.
A agenda dos participantes da NSS se concentrou ainda na crise na Ucrânia e em uma reunião do G-7, durante a qual as potências mais industrializadas do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália e Japão) decidiram isolar ainda mais a Rússia.
Nova cúpula em 2016
A luta contra a ameaça terrorista nuclear está no centro do legado político desejado pelo presidente Obama, que lançou a primeira cúpula de Segurança Nuclear em 2010 e fará a quarta edição em Washington, em 2016.
O objetivo é ambicioso, já que "há quase duas mil toneladas de material para ser utilizado em armas que circulam no mundo", lembrou o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte. No comunicado final, os líderes recomendam continuar reduzindo as reservas de urânio altamente enriquecido e de plutônio.
Obama garantiu que os dirigentes consideram transformar o formato atual das cúpulas, que teriam uma organização mais permanente e dirigida em nível ministerial, para "sincronizar a NSS com instituições existentes, como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Interpol".
As discussões também trataram da dificuldade de se fazer cumprir os acordos existentes no setor nuclear, como ilustrado pela crise ucraniana. Em 1994, a Ucrânia concordou com desmantelar seu arsenal nuclear herdado da antiga União Soviética em troca da garantia de sua integridade territorial, conforme o acordo com o Memorando de Budapeste.
"As garantias" oferecidas à Ucrânia "eram uma condição essencial para firmar o Tratado de Não-Proliferação", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na segunda-feira.
"A credibilidade das garantias oferecidas à Ucrânia no Memorando de Budapeste de 1994 se viram, porém, seriamente afetadas pelos recentes acontecimentos", alertou. "As implicações são profundas, tanto para a segurança regional quanto para a integridade do regime de não-proliferação nuclear", completou Ban.