Lima - A deputada venezuelana opositora María Corina Machado pretende voltar a Caracas na quarta-feira (26/3), apesar de temer ser presa, por ter sido cassada e perdido a imunidade parlamentar, anunciou ela nesta terça-feira em Lima.
"Quero anunciar que amanhã vou voltar ao meu país, porque sou deputada venezuelana, e vou ingressar como tal na Venezuela para continuar lutando nas ruas, sem descanso, até que conquistemos a democracia e a liberdade", declarou Machado, em uma coletiva de imprensa no Congresso peruano.
Perguntada sobre se tem medo de ser detida, respondeu: "Sem dúvidas, porque na Venezuela não existe um Estado de Direito". A congressista estava em Lima na segunda-feira, quando o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Diosdado Cabello, informou que ela "deixou de ser deputada" por intervir como funcionária interina do governo do Panamá em uma reunião da OEA, na sexta.
"Conheço meus direitos. Sou deputada da Assembleia Nacional e tenho imunidade parlamentar", afirmou Machado.
Em Lima, onde participou de um seminário sobre a democracia na América Latina, a deputada foi recebida pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso peruano, o deputado oposicionista Martín Belaúnde.
Belaúnde anunciou que vai pedir ao presidente do Congresso, à ministra das Relações Exteriores e ao presidente Humala para que intervenham junto às autoridades venezuelanas para garantir "todos os direitos da deputada, e a todos os deputados da oposição que estão ameaçados".
Embaixador panamenho defende deputada
As ameaças à deputada Machado são a "prova das arbitrariedades cometidas na Venezuela", denunciou nesta terça Arturo Vallarino, embaixador panamenho na Organização dos Estados Americanos.
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"Em nenhuma parte do mundo o presidente de uma Assembleia pode cassar uma deputada eleita pelo voto popular", denunciou.
Cabello utilizou o artigo 191 da Constituição venezuelana, que diz que os deputados "não podem aceitar ou exercer cargos públicos sem perder seu mandato, exceto em atividades docentes, acadêmicas, acidentais ou assistenciais, sempre sem dedicação exclusiva".
Mas o embaixador do Panamá reiterou que a decisão de incluir Machado na delegação de seu país foi "um ato acidental", exclusivamente com o propósito de permitir o direito de palavra na sessão. A deputada já havia apresentado a mesma versão no domingo.
"Ela não é funcionária panamenha, nem nada parecido", acrescentou Vallarino. Na semana passada, a Assembleia Nacional venezuelana, de maioria chavista, pediu a abertura de uma investigação contra Machado por uma suposta incitação à violência, ao terrorismo e ao homicídio nas manifestações que já deixaram mais de 30 mortos em todo o país.
O Panamá e a Venezuela romperam relações diplomáticas e comerciais, devido ao fato de o governo de Caracas ter denunciado uma tentativa de ingerência do governo panamenho nos assuntos internos venezuelanos, através da OEA.