Agência France-Presse
postado em 26/03/2014 07:39
Caracas - O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou nessa terça-feira (25/3) a captura de três generais acusados de tramar um "golpe de Estado" após seis semanas de protestos contra seu governo, que já deixaram 34 mortos, centenas de feridos e vários líderes opositores presos. "Na noite de ontem, capturamos três generais da aviação que vínhamos investigando", disse Maduro em uma reunião com chanceleres sul-americanos em Caracas.
Sem identificá-los, disse que esses três generais "pretendiam colocar a Força Aérea contra o governo legitimamente constituído" e estavam ligados à oposição. "Este grupo capturado tem vínculos diretos com setores da oposição e dizia que esta semana seria decisiva", acrescentou o presidente. Maduro disse que os três militares já foram apresentados a um tribunal militar. "Essa informação é tratada em nível presidencial", disse à AFP uma fonte da Força Aérea ao ser consultada sobre o nome e a patente dos oficiais.
Fernando Falcón, tenente-coronel da reserva e historiador em assuntos militares, destacou que "esta é a primeira vez que generais são detidos, acusados de golpes de Estado" nos 15 anos de governos chavistas.
Na noite desta terça, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) sentenciou o prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, a um ano de prisão e à perda de mandato por não impedir a violência durante os protestos contra o governo. Ceballos, prefeito do estado de Táchira, foco da onda de protestos que sacode a Venezuela, é o segundo prefeito opositor a ser condenado pelas manifestações, após Enzo Scarano, de San Diego, do estado de Carabobo (norte), que perdeu o mandato e recebeu uma pena de dez meses de prisão.
"Justiça! Não sei os termos da sentença (de Ceballos), mas fui informado de que se fez justiça. O Poder Judiciário conta com todo o apoio do chefe de Estado", disse Maduro ao comentar a notícia. Scarano e Ceballos estão detidos desde a semana passada em uma unidade militar.
A Venezuela é sacudida desde 4 de fevereiro por manifestações convocadas por estudantes e líderes opositores contra a crise econômica e os altos índices de criminalidade. O líder opositor Leopoldo Lopez está preso desde o mês passado sob a acusação de incitar protestos violentos para desestabilizar o governo.
[SAIBAMAIS]A líder opositora venezuelana María Corina Machado disse que teme ser detida em Caracas quando voltar de uma viagem a Lima nesta quarta. Machado teve cassada a sua vaga de deputada por ter se apresentado em uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) como representante do Panamá para tentar expor a situação na Venezuela.
Na semana passada, a maioria chavista na Assembleia Nacional pediu à Procuradoria que investigue Machado por instigar a violência nos protestos contra o governo. Ela impulsionou junto com López a estratégia "Saída", que tentava obrigar Maduro a renunciar por meio da pressão de manifestações.
Nesta terça-feira, o chavismo aprovou no Parlamento uma moção de apoio à destituição de Machado e comunicou que informará aos poderes públicos sobre a decisão, enquanto os legisladores da oposição recorriam ao Tribunal Supremo de Justiça contra a destituição da deputada. Maduro diz enfrentar "um golpe de Estado contínuo" de opositores que ele acusa de ter vínculos com países estrangeiros, entre eles Estados Unidos e Colômbia.
Segundo o presidente venezuelano, aqueles que pretendem atentar contra o governo buscam produzir a imagem de um "protesto justo reprimido por um governo ditatorial para justificar golpes de Estado, magnicídio" e, inclusive, "a intervenção de alguma potência" na Venezuela. Maduro acusa a oposição de planejar golpes contra seu governo, que começou no dia 19 de abril de 2013 após uma disputada eleição na qual derrotou o líder opositor e governador de Miranda, Henrique Capriles, por uma diferença de 1,5% dos votos.
Unasul e diálogo
Maduro anunciou a prisão dos militares diante de chanceleres da Unasul reunidos em Caracas para analisar mecanismos que impulsionem um diálogo de paz entre governo e oposição. O mandatário pede há várias semanas que estudantes e líderes opositores participem "da conferência nacional de paz" realizada com vários setores da sociedade.
Mas estudantes e opositores se negam a participar até que, entre outras coisas, o governo liberte os detidos, entre eles o dirigente da Vontade Popular, Leopoldo López, e os prefeitos de San Cristóbal (oeste), Daniel Ceballos, e San Diego (norte), Enzo Scarano, acusados de promover episódios de violência em manifestações.