Agência France-Presse
postado em 26/03/2014 10:32
Cidade do Vaticano - O papa Francisco, comprometido com uma maior transparência financeira no Vaticano e defensor de uma Igreja austera, aceitou nesta quarta-feira (26/3) a renúncia do bispo de Limburgo (Alemanha), Franz-Peter Tebartz van Elst, conhecido como o ;bispo do luxo;. A Santa Sé explicou em um comunicado que "a situação na diocese de Limburgo impede o exercício fecundo de seu ministério". O sumo pontífice aceita portanto a renúncia apresentada em 20 de outubro pelo religioso, que foi substituído provisoriamente por um vigário geral."O Santo Padre pede ao clérigo e aos fiéis da diocese de Limburgo que recebam as decisões da Santa Sé com docilidade e que se esforcem para recuperar um clima de caridade e de reconciliação", afirma o Vaticano em um comunicado. A Santa Sé indica ainda, que a Congregação para os Bispos, encarregada de analisar o caso, "estudou com muita atenção" o informe sobre as responsabilidade de todos os envolvidos na construção do controverso centro religioso St Nikolaus.
Há alguns meses, uma polêmica explodiu sobre o financiamento da reforma do centro diocesano de Limburgo. Os gastos de 31 milhões de euros (43 milhões de dólares), ao invés dos seis previstos inicialmente, provocaram um grande escândalo na Alemanha. Uma comissão de investigação foi nomeada pela Igreja da Alemanha para apresentar um relatórios sobre os gastos da diocese.
A comissão se reuniu em oito ocasiões, a partir de outubro de 2013, às vezes durante vários dias seguidos, e entrou em contato com várias testemunhas. O presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, Robert Zollitsch, entregou o relatório no início de março ao cardeal Marc Ouellet, chefe da Congregação para os Bispos, no Vaticano. Após a renúncia, o bispo foi convidado pelo papa Francisco a deixar a diocese, administrada em sua ausência por um vigário geral.
Como sinal de arrependimento, o bispo, repudiado na Alemanha por sua mania de grandeza, seu carro de luxo e seu projeto residencial, chegou ao Vaticano em um voo econômico para se encontrar com o Papa Francisco. Tebartz-van Elst, de 53 anos, empreendeu a construção de uma onerosa sede episcopal, com museu, sala de conferências, capela e apartamentos privados. Nesta quarta-feira, o Vaticano nomeou o monsenhor Manfred Grohe para dirigir a diocese como administrador apostólico.
De acordo com a imprensa alemã, o relatório da comissão que investigou o caso é devastador para aquele que passou a ser chamado de "bispo bling bling" por seus erros de gestão. O caso gerou muita polêmica na Alemanha, no momento em que o papa defende uma Igreja mais humilde. No país, a Igreja Católica (como a evangélica) se beneficia de um imposto de culto: emprega muitas pessoas, administra vários bens e associações sociais, educativas e de saúde, incluindo nos países em desenvolvimento.
O influente cardeal Reinhard Marx, que acaba de ser nomeado pelo Papa como presidente da conferência episcopal alemã, elogiou a decisão do pontífice de afastar o polêmico bispo. "Foi muito bom que o Papa chegou a uma decisão, com a qual encerra uma fase de incerteza para a diocese de Limburgo", comentou o cardeal.
"Vamos nos esforçar para que as finanças da Igreja sejam mais transparentes", comentou em um comunicado. Por sua vez, o movimento católico alemão progressista da base "Wir sind Kirche" ("Somos Igreja") recebeu com "grande alívio" a decisão papal, que constitui um "sinal positivo" para toda a Igreja.