Agência France-Presse
postado em 26/03/2014 20:14
María Corina Machado, deputada destituída ameaçada de ser presa, e Leopoldo López, detido desde fevereiro, são os rostos mais visíveis da ala radical da oposição na Venezuela, acusada de promover a violência nas manifestações pelo governo, que lançou uma ofensiva judicial.
Detido desde 18 de fevereiro na unidade militar de Ramo Verde, acusado de ser responsável pelos protestos que já deixaram 34 mortos, López espera que a justiça determine sua prisão formal ou sua liberdade.
"López se lançou por conta própria em uma iniciativa política que terminou em Ramo Verde, e Machado também age por conta própria", explicou à AFP o analista político Ignacio Avalos, que observa uma oposição "dividida e desconcertada".
As manifestações começaram no dia 4 de fevereiro, na cidade de San Cristóbal (oeste), quando estudantes universitários saíram às ruas para protestar contra a insegurança.
Aos poucos se espalharam pelo país, chegando a Caracas em 12 de fevereiro, convocadas por López. A estratégia impulsionada por ele e outros dirigentes foi chamada de "A Saída", porque visa forçar a queda do presidente Nicolás Maduro.
[SAIBAMAIS]O movimento evidenciou as divergências na coalizão de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD): seu rosto mais visível, o governador de Miranda (centro-norte) e ex-candidato presidencial Henrique Capriles, agiu com cautela, sem apoiar medidas anti-constitucionais
Para Mercedes Pulido, professora da Universidade Católica, houve "uma sensação de questionamento por parte de López" a Capriles, derrotado por Maduro por uma diferença de 1,5% nas eleições de abril de 2013.
Economista de 42 anos formado em Harvard, López foi prefeito de Chacao, na região metropolitana de Caracas, entre 2008 e 2008. Ao final do mandato, foi proibido de exercer cargos públicos, depois de ter sido condenado por desvio de verbas. A punição termina esse ano.
- Oposição na mira -
A deputada Machado voltou nesta quarta a Caracas, depois de uma viagem a Lima, onde foi informada que seu mandato foi cassado na Assembleia Nacional.
Engenheira de 46 anos, chegou em 2010 ao Congresso com uma das maiores votações daquele ano. Mostrou sua postura decidida em 2011, ao gritar "expropriar é roubar" para o então presidente Hugo Chávez (1999-2013).
"Ela tem sua própria visão das coisas. Apoiou ;A Saída;, mas duvido que esteja realmente com López. É inteligente e tem muita força pessoal, ganhou com uma votação importante. É vítima de uma arbitrariedade legal", analisa Avalos.
Para destituí-la, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, acusou Machado de violar a Constituição ao exercer um cargo para um governo estrangeiro, por ter participado de uma reunião da OEA como parte da delegação do Panamá.
Caracas rompeu relações com o Panamá no dia 6 de março, depois de um proposta desse país para a Organização dos Estados Americanos debater os direitos humanos nos protestos na Venezuela.
Também estão presos em Ramo Verde os opositores Enzo Scarano e Daniel Ceballos. Scarano foi deposto do cargo de prefeito de San Diego e condenado há 10 meses de prisão; enquanto Ceballos foi tirado do comando da cidade de San Cristóbal e sentenciado a um ano de prisão. Os dois são acusados de não impedir a violência nas manifestações.
Para Pullido, essa ofensiva judicial corresponde a uma "estratégia de eliminar qualquer obstáculo que implique em questionamentos. Nada disto está sustentado nos autos".
As passeatas, que também reclamam do alto custo de vida e da escassez de produtos, são cada vez mais esporádicas, ou inovam em seu estilo, concordam os analistas.
Mas a denúncia fundamental, ressaltou Avalos, é a "vida miserável" dos venezuelanos, causada pela "crise econômica e pela insegurança", e não as detenções dos opositores.