Bruxelas - O ex-primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg foi nomeado nesta sexta-feira secretário-geral da OTAN, em um momento em que a Aliança Atlântica, organização criada durante a Guerra Fria, enfrenta novos desafios com a crise ucraniana.
A crise na Ucrânia e com a Rússia "mostra a necessidade de uma liderança forte e determinada para a OTAN", declarou no Twitter o atual secretário-geral da organização, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen. "Ele é o homem certo", acrescentou.
Um porta-voz da OTAN indicou que Stoltenberg, o único candidato ao cargo, foi escolhido "por unanimidade" pelos 28 países membros.
Stoltenberg, de 55 anos, assumirá o cargo em 1; de outubro, durante quatro anos. Líder do Partido Trabalhista norueguês, Jens Stoltenberg dirigiu o governo por quase dez anos. Os 28 países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) chegaram a um acordo mais rápido do que previsto, já que esta nomeação deveria acontecer em junho. Stoltenberg tem, além disso, a vantagem de manter boas relações com a Rússia.
De fato, esta nomeação acontece num momento em que a Aliança Atlântica, organização criada há quase 65 anos, atravessa novos desafios com a crise ucraniana.
O expansionismo de Moscou denunciado pelas potências ocidentais depois da anexação da Crimeia pela Rússia geral preocupação entre os países da Europa oriental, outrora sob a órbita da União Soviética.
Ex-militante contra a OTAN
Antes de se tornar um homem de consenso, curiosamente Stoltenberg militou durante a sua juventude em grupos radicais hostis à Aliança Atlântica.
[SAIBAMAIS]Este economista social-democrata nunca se interessou particularmente pelas questões de defesa e segurança, mas os dez anos à frente de diferentes governos lhe proporcionaram numerosos contatos internacionais e o ensinaram a arte da negociação.
Stoltenberg, do Partido Trabalhista, será o primeiro secretário-geral da OTAN de um país fronteiriço com a Rússia. Sua ação política permitiu estabelecer boas relações com Moscou, uma vantagem na atual conjuntura, com a crise na Crimeia que reavivou tensões que faz lembrar a Guerra Fria.
Quando ocupou o cargo de primeiro-ministro, Noruega e Rússia assinaram acordos limítrofes importantes no mar de Barents, assim como sobre a isenção de vistos para habitantes de áreas fronteiriças.
"A experiência de Stoltenberg e da Noruega como vizinha da Rússia será certamente útil", considerou recentemente o jornal norueguês Aftenposten.
"Mas a natureza da relação que o Ocidente mantém com a Rússia é definida em outros planos, e não nos órgãos da OTAN", acrescentou o jornal, apontando para a União Europeia e, acima de tudo, para Washington.
Durante a sua juventude, Jens Stoltenberg militou contra a OTAN e a Comunidade Europeia, duas organizações que passou a apoiar posteriormente.
Em 1973, com cabelos longos, atirou pedras contra a embaixada dos Estados Unidos em reação ao bombardeio da cidade vietnamita de Haiphong pela Força Aérea americana.
Em 1985, assumiu a liderança da Juventude Trabalhista, que defendia uma saída da Noruega da OTAN. Mas foi sob sua liderança que o movimento deu uma guinada e começou a apoiar a Aliança Atlântica.
"Parece que suas ideias radicais foram diluídas ao longo do tempo, mas sem desaparecer completamente", lamentou esta semana o editorial do Wall Street Journal.
Como ministro, lembrou o jornal americano, Stoltenberg participou de protestos contra os teste nucleares franceses no atol de Mururoa.
Não é um ;falcão;
Jens Stoltenberg, casado e pai de dois filhos, nasceu em uma família envolvida ativamente com a política. Seu pai foi ministro das Relações Exteriores e da Defesa e sua mãe foi secretária de Estado. Em 1991 foi eleito deputado, ministro da Energia e das Finanças.
Em 2000, aos 41 anos, se tornou o mais jovem chefe de Governo da Noruega. Um posto que ocupou brevemente mas que voltou a conquistar entre 2005 e outubro do ano passado.
Sob seu comando, o reino nórdico participou da guerra no Afeganistão e do bombardeio contra a Líbia. A Noruega combina uma tradição pacifista a uma cultura atlantista. É um dos poucos membros da Aliança, graças a seu petróleo, que aumentou seu orçamento de defesa quando os demais membros o reduziram como efeito da crise econômica.
Stoltenberg é muito popular em sua terra. Acostumado a negociações difíceis, é um especialista em firmar compromissos, a tal ponto que algumas das pessoas que trabalharam com ele o recriminam por evitar conflitos.
"Ninguém vê em Jens Stoltenberg um falcão em matéria de política e segurança", afirma Gunnar Stavrum, comentarista do jornal Nettavisen.
Para Stavrum, "a escolha de Jens Stoltenberg mostra que, em um período de intensificação dos conflitos internacionais, os grandes países da OTAN desejam um secretário-geral pronto a fazer concessões".