Agência France-Presse
postado em 04/04/2014 11:16
O primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan relançou nesta sexta-feira (4/4) sua guerra contra as redes sociais, criticando a decisão da Corte Constitucional que na quinta-feira considerou ilegal o polêmico bloqueio da rede Twitter e obrigou o governo a levantar esta medida.Enquanto fazia estas declarações, uma Corte de menor escalão ditou contra o bloqueio de outra rede social, a plataforma de vídeos YouTube. Menos de 24 horas após a restauração do acesso à popular rede de microblogs na Turquia, Erdogan criticou publicamente a decisão da Corte, que considera contrária aos "valores nacionais".
"Devemos aplicar, é claro, a decisão da Corte Constitucional, mas não a respeito. Não respeito este veredicto", declarou Erdogan à imprensa antes de embarcar em um avião rumo ao Azerbaijão.
[SAIBAMAIS]A mais alta instância judicial turca considerou ilegal a proibição do Twitter ordenada há duas semanas pelo governo islamita conservador turco, ao estimar que violava o direito à liberdade de expressão e ordenou sua suspensão imediata.
Neste mesmo sentido, um tribunal de Ancara ordenou nesta sexta-feira o levantamento do bloqueio do YouTube, decretado na semana passada pelo governo turco após a difusão do conteúdo de uma reunião confidencial.
Apesar desta decisão, sujeita à apelação, a plataforma de vídeos permanecia inacessível ao meio-dia desta sexta-feira na Turquia. Alvo de graves acusações de corrupção, o primeiro-ministro turco declarou guerra às redes sociais ordenando o bloqueio sucessivo do Twitter no dia 20 de março e do YouTube no dia 27 de março para impedir a difusão de escutas telefônicas comprometedoras.
A mais comprometedora, e que justificou o bloqueio do YouTube, foi a gravação de uma reunião confidencial na qual quatro funcionários turcos de alto escalão, entre eles o ministro das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, e o chefe dos serviços secretos (MIT), Hakan Fidan, falavam da possibilidade de uma intervenção militar na Síria.
Estas decisões provocaram uma avalanche de críticas, tanto na Turquia quanto no exterior, denunciando o autoritarismo do governo islamita conservador, no poder desde 2002.
A caminho das presidenciais
Grande vencedor das eleições municipais de domingo passado, Erdogan minimizou nesta sexta-feira as críticas e lançou novamente sua batalha contra as redes sociais. "Nossos valores nacionais, morais, foram ridicularizados. Tudo, incluindo os insultos contra um primeiro-ministro e vários ministros eram, no entanto, evidentes", lamentou Erdogan.
"Isso não tem nada a ver com as liberdades", declarou. Twitter, YouTube e Facebook "são empresas comerciais que vendem um produto (...) é o direito de cada um comprar ou não seus produtos", acrescentou.
Fortalecido pela vitória de seu partido no domingo, Erdogan, que dirige o país desde 2003, avalia se apresentar às eleições presidenciais de agosto, disputadas pela primeira vez por sufrágio universal direto. O primeiro-ministro deu um novo sinal de suas intenções nesta sexta-feira, declarando-se contra qualquer mudança da regra de seu partido que o obriga a abandonar suas funções após as eleições legislativas de 2015.
"Sou a favor da regra de três mandatos máximos", declarou. No entanto, Erdogan considerou muito cedo para anunciar uma decisão e disse que conversará primeiro com o atual presidente, Abdullah Gul.