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Afegãos votam para eleger sucessor do presidente Karzai neste sábado

Cerca de 6.000 colégios eleitorais espalhados por todo o país abriram suas portas

Agência France-Presse
postado em 05/04/2014 09:28

Cerca de 6.000 colégios eleitorais espalhados por todo o país abriram suas portas

Cabul - Os afegãos estão convocados às urnas neste sábado para eleger o sucessor do presidente Hamid Karzai, com a esperança de que ele guie o Afeganistão em direção a uma nova etapa após a saída da Otan do país, no fim deste ano. Cerca de 6.000 colégios eleitorais espalhados por todo o país abriram suas portas às 07h00 (23h30 de Brasília).

"Vim votar para que alguém possa conquistar uma paz duradoura no país. Quero que meu voto seja uma bofetada no rosto dos talibãs", declarou Laila Neyazi, uma dona de casa de 48 anos vestida com uma burca. "Não tenho medo dos talibãs e de qualquer forma morrerei algum dia", acrescentou a mulher.

Os talibãs, que rejeitam estas eleições, consideradas um complô estrangeiro, convocaram seus combatentes a perturbar o dia, mas apenas um incidente foi reportado nas primeiras horas da votação.


[SAIBAMAIS]Uma explosão matou uma pessoa e feriu outras duas em um colégio eleitoral na província de Logar, ao sul de Cabul, informou o chefe deste distrito, Abdul Hameed Hamid Mohamad Agha.

Nas eleições de 2009, os talibãs realizaram vários ataques matinais que fizeram com que a população permanecesse em casa. Na capital, Cabul, centenas de pessoas aguardavam para depositar seu voto nas urnas, apesar da chuva.

A situação era a mesma em Jalalabad (leste) e Kandahar (sul), duas das principais cidades do país, onde a participação parecia nas primeiras horas superior à registrada em 2009, segundo jornalistas da AFP.

O chefe de Estado, Hamid Karzai, votou em um colégio situado perto do palácio presidencial. Convocou os afegãos a irem votar, "apesar da chuva, do frio e das ameaças inimigas" neste dia "importante para o futuro" do país.

Esta primeira transferência de poder de um presidente afegão eleito democraticamente a outro é considerada um teste da estabilidade do país e da solidez de suas instituições, já que a retirada das forças da Otan prevista para o fim de 2014 aumenta os temores de um retorno ao caos e de um agravamento da violência.

Oito candidatos aspiram a suceder Karzai, o único presidente que este violento país de 28 milhões de habitantes já teve desde a queda do regime talibã em 2001, e que é proibido pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato.

Três de seus antigos ministros são os que têm mais chances de sucedê-lo: Zalmai Rasul, considerado o candidato do presidente atual, Ashraf Ghani, um economista famoso, e Abdullah Abdullah, opositor que chegou na segunda posição nas presidenciais de 2009. Todos votaram pela manhã em Cabul.

- Violência, fraude, abstenção - Os resultados preliminares deste primeiro turno serão conhecidos no dia 24 de abril e um eventual segundo turno está marcado para o dia 28 de maio.

Devido às ameaças dos talibãs, centenas de milhares de policiais e soldados afegãos foram mobilizados em todo o país, em particular em Cabul.

Os talibãs, que travam uma violenta guerra desde sua expulsão do poder em 2001 por uma coalizão militar dirigida pelos Estados Unidos, realizaram uma série de ataques sangrentos durante a campanha eleitoral.

Embora não tenham conseguido descarrilar o processo e os candidatos tenham podido organizar grandes comícios em todo o país, alguns de seus ataques tiveram enorme repercussão.

Como o atentado contra o hotel Serena, o mais luxuoso de Cabul, que deixou nove mortos, entre eles quatro estrangeiros, assim como o correspondente afegão da Agence France Presse (AFP) Sardar Ahmad, sua esposa e dois de seus filhos.

Além disso, a violência também custou a vida de dois jornalistas estrangeiros: o anglo-sueco Nils Horner, assassinado em plena rua de Cabul no dia 11 de março, e a fotógrafa alemã da agência americana Associated Press (AP) Anja Niedringhaus, morta na sexta-feira no leste do país.

Além da insegurança, a fraude e a abstenção são as grandes ameaças destas eleições, como já foi o caso em 2009. Após os últimos ataques, várias missões de observação eleitoral estrangeiras decidiram abandonar o país, complicando a prevenção de fraude.

As autoridades eleitorais afegãs garantem que mais de 300.000 observadores afegãos - independentes e representantes dos candidatos - vigiarão a votação. Além disso, foram introduzidos novos dispositivos antifraude, como a tinta invisível aplicada no polegar dos eleitores.

Mas é "difícil imaginar uma eleição sem fraude", estimava em um recente relatório Martine Van Bijlert, uma especialista da Rede de Analistas sobre o Afeganistão, com sede em Cabul. Outra questão é a participação. Em 2009, apenas 30% dos eleitores inscritos de fato votaram.

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