Agência France-Presse
postado em 05/04/2014 14:32
Paris - O presidente de Ruanda, Paul Kagame, acusou novamente a França de ter participado do genocídio de 1994, em uma entrevista que será publicada domingo na revista Jeune Afrique (Jovem África), na véspera das cerimônias em ocasião do aniversário de 20 anos dos massacres.Ao falar sobre a questão das responsabilidades, o presidente ruandês denunciou "o papel direto de Bélgica e França na preparação política do genocídio" e "a participação desta última em sua execução".
[SAIBAMAIS]Kagame acusou os soldados franceses da operação militar humanitária Turquesa, mobilizados em junho de 1994 no sul do país, de terem sido não só "cúmplices", como também "atores" dos massacres.
A reação do governo francês não tardou. A Presidência francesa indicou à AFP que essas declarações "não contribuem com o apaziguamento". "O Ministério das Relações Exteriores está examinando as consequências dessas afirmações", acrescentou.
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Na entrevista, Kagame ressaltou que "vinte anos depois, a única observação admissível (para a França) é de que não fez o suficiente para salvar vidas durante o genocídio".
"É um fato", disse Kagame, antes de considerar que "isso esconde o mais importante: o papel direto da Bélgica (ex-potência colonial) e da França na preparação política do genocídio e a participação desta última em sua execução".
"Perguntem aos sobreviventes do massacre de Bisesero, em junho de 1994, e eles dirão o que os soldados franceses da operação Turquesa fizeram. Cúmplices, sem dúvida (...), mas também atores", acusou Kagame.
A França deve ser representada pela ministra da Justiça Christiane Taubira na segunda-feira em Kigali nas cerimônias que marcam o 20; aniversário dos massacres.
Essas acusações já tinham sido formuladas pelo governo de Kigali em agosto de 2008, durante a divulgação do relatório da comissão de investigação ruandesa sobre o suposto papel da França no genocídio que deixou, segundo a ONU, cerca de 800.000 mortos, principalmente da etnia tutsi, entre abril e julho de 1994.
Em 2008, a comissão de investigação já tinha evocado o caso do povoado de Bisesero (oeste), para onde cerca de 50.000 tutsis fugiram, acusando o Exército francês "de ter atrasado deliberadamente o resgate de cerca de 2.000 sobreviventes para que os assassinos tivessem tempo de matá-los".