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Manifestantes pró-russos ocupam prédios públicos no leste da Ucrânia

As manifestações favoráveis à união de regiões ucranianas com grandes populações de língua russa ao governo de Moscou têm sido frequentes desde a queda do governo de Kiev

Agência France-Presse
postado em 06/04/2014 17:07
Donetsk - Manifestantes favoráveis à Rússia invadiram neste domingo prédios públicos nas cidades de Donetsk, Kharkiv e Lugansk, no leste da Ucrânia, duas semanas após a adesão da Crimeia à Federação Russa.

As manifestações favoráveis à união de regiões ucranianas com grandes populações de língua russa ao governo de Moscou têm sido frequentes desde a queda do governo de Kiev, no fim de fevereiro.

[SAIBAMAIS]Em Donetsk, principal cidade da região mineradora de Donbas, mais de 2.000 pró-russos participaram de um ato perto da sede da administração da província, cercada por mais de 200 policiais.

Os manifestantes agitavam bandeiras russas e exibiam cartazes com lemas como "Donetsk, cidade russa", "Fora Otan" e "Queremos um referendo", em alusão ao processo que no mês passado deu a independência para a província da Crimeia, que se juntou à Federação Russa pouco tempo depois.

Ao menos 150 manifestantes invadiram o prédio e ergueram barricadas para se proteger, enquanto exigiam a realização de uma sessão extraordinária da Câmara local para convocar um referendo, sob a ameaça de designar seu próprio "conselho do povo". Vários manifestantes retiraram a bandeira ucraniana do prédio e hastearam em seu lugar uma bandeira russa.

Um correspondente da AFP indicou que os policiais deixaram a sede da administração. As imagens divulgadas pelo site "Novosti Donbassa" (Notícias de Donbass) mostram manifestantes na entrada do prédio, gritando "Rússia! Rússia", enquanto um deles, usando um megafone, afirma: "Isto não é o fim, é apenas o começo".

No leste da Ucrânia, de maioria linguística russa, há uma grande tensão desde que o presidente Viktor Yanukovytch, favorável à Rússia, foi deposto por manifestantes pró-europeus e por grupos ultranacionalistas de extrema-direita.

Em Kharhiv, manifestantes pró-Rússia também tomaram a sede da administração regional, onde repetiram um ato simbólico que marca a tomada de prédios públicos na Ucrânia. A bandeira nacional da Ucrânia foi arriada e a russa foi hasteada em seu lugar. Dezenas de manifestantes entraram no prédio quando as forças de segurança abandonaram o local, em meio ao assédio de mais de 2 mil pessoas. A polícia se mantinha a cerca de 50 metros do prédio.

Outra grande mobilização aconteceu em Lugansk, onde um grande número de pessoas se reuniu diante de um edifício dos serviços de segurança ucranianos (SBU) depois de um comício pró-russo, constatou um fotógrafo da AFP.

Alguns encapuzados pediam a libertação dos militantes pró-Rússia detidos durante as manifestações anteriores. Primeiro jogaram ovos e depois pedras contra a sede do SBU. Várias janelas foram quebradas.

A polícia tentou afastá-los com bombas de gás lacrimogêneo. Mas eles conseguiram arrombar a porta de entrada, e alguns invadiram o local. O presidente russo, Vladimir Putin, comprometeu-se a defender de todas a formas as populações de língua russa das repúblicas que fizeram parte da União Soviética.

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O ministro ucraniano do Interior, Arsen Avakov, acusou "Putin e Yanukovytch de dirigir e financiar estes distúrbios separatistas". O favorito nas pesquisas para a eleição presidencial ucraniana, Petro Poroshenko, estimou que os acontecimentos de domingo têm por objetivo "anular ou adiar" a eleição presidencial antecipada prevista para 25 de maio.

A crise entre a Rússia e a Ucrânia teve como consequência a incorporação da república da Crimeia à Federação Russa após um referendo que o governo ucraniano e os países ocidentais não reconhecem. O presidente tcheco, Milos Zeman, estimou neste domingo que a Otan deveria enviar tropas à Ucrânia caso a Rússia decida invadir do país.

"Se a Rússia decidir estender sua expansão territorial sobre o leste da Ucrânia, acabou a conversa. Neste caso, não vou apenas pedir as maiores sanções possíveis por parte da União Europeia, mas também o aparato militar da OTAN, com o envio de suas tropas ao território ucraniano".

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