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Pistorius chora no tribunal e pede perdão pela morte da namorada

Ao falar em público pela primeira vez desde a tragédia, confessou que desde então sofre com "pesadelos terríveis"

Agência France-Presse
postado em 07/04/2014 08:36
Ao falar em público pela primeira vez desde a tragédia, confessou que desde então sofre com

Pretoria - O campeão paralímpico sul-africano Oscar Pistorius, julgado pelo assassinato de sua namorada, Reeva Steenkamp, em fevereiro de 2013, foi convocado a depor nesta segunda-feira e começou seu testemunho pedindo perdão, entre lágrimas, à família da vítima.

"Quero aproveitar esta oportunidade para pedir perdão ao senhor e à senhora Steenkamp", disse em uma voz entrecortada por soluços e por vezes quase inaudível, o que levou a juíza a pedir que falasse com mais clareza.

No tribunal, a mãe de Reeva, June, cercada por outros familiares, permaneceu impassível. Pistorius, que afirma desde o início ter confundido a namorada com um ladrão, disse que "estava tentando proteger Reeva. Quero que as pessoas saibam que ela era amada quando foi para a cama naquela noite", completou.

A acusação afirma, pelo contrário, que o atleta matou a namorada após uma violenta briga. "Eu tentei colocar minhas palavras no papel, para escrever a vocês, mas nunca existirão palavras suficientes", prosseguiu o primeiro atleta paralímpico que participou de uma edição dos Jogos Olímpicos.

Esta foi a primeira vez que Pistorius falou em público desde a morte da namorada, em 14 de fevereiro de 2013. Desde então, ele disse que sofre com "pesadelos horríveis". "Acordo durante a noite com o cheiro de sangue", disse.

Também contou que desde a fatídica noite de 2013 perdeu muito peso, toma comprimidos para dormir e antidepressivos. Após cinco semanas de depoimentos de testemunhas convocadas pela promotoria, nesta segunda-feira começou a apresentação dos argumentos da defesa.

No entanto, durante a tarde o tribunal decidiu adiar a audiência até terça-feira, a pedido da defesa, que argumentou que seu cliente estava esgotado. "Bom, parece estar esgotado", respondeu a juíza Thokozile Masipa, referindo-se a Pistorius.

Rezávamos juntos

Interrogado por seu habilidoso advogado, Barry Roux, sobre sua vida e sua família, desde seu nascimento, sem os perônios, no dia 22 de novembro de 1986, até sua dupla amputação, Pistorius, de 27 anos, falou visivelmente emocionado da morte de sua mãe, quando tinha apenas 15 anos.

"Minha mãe se preocupava muito com a segurança. Crescemos em uma família onde meu pai estava ausente com frequência, e (minha mãe) tinha medo à noite, às vezes até mesmo chamava a polícia", declarou.

"Ela conservava inclusive uma arma sob seu travesseiro", acrescentou o acusado. Pistorius se descreveu como um homem sensível, próximo de sua família e de amigos, apaixonado por cachorros e multiplicador de ações de caridade. Muito diferente da imagem de um homem paranoico, obcecado com a segurança, descrita pela imprensa sul-africana e pelas testemunhas da promotoria.

"A religião é muito importante para mim. Meu Deus é um Deus de refúgio", declarou também Pistorius.
Reeva era uma "bênção", já que tinha muita fé e era "uma cristã muito devota", "rezávamos juntos", declarou o atleta.

Ao falar em público pela primeira vez desde a tragédia, confessou que desde então sofre com
Durante a tarde, com a voz cada vez menos audível, Pistorius admitiu estar esgotado. "Dormiu a noite passada?", perguntou seu advogado. "Não senhor, tenho muitas coisas na cabeça", respondeu o atleta. Seu advogado pediu, então, o adiamento da audiência, apesar de seu cliente estar falando há apenas uma hora e meia.

"Se não acontecer o mesmo todos os dias e o julgamento puder avançar, não tenho nenhuma objeção", declarou o promotor Gerrie Nel. "Parece realmente estar esgotado", reconheceu a juíza Thokozile Masipa, adiando a audiência até a manhã de terça-feira.

Os primeiros momentos da audiência desta segunda-feira foram consagrados ao testemunho do médico legista Jan Botha. O especialista confirmou, entre outras coisas, a ordem de impacto das quatro balas disparadas por Pistorius apresentada pela promotoria: primeiro no quadril e por último na cabeça.

Reeva teria podido, então, gritar antes de morrer, como afirma a promotoria, exceto se os disparos fossem em rajada, como sugeriu Roux. Mas a defesa havia afirmado até agora que o atleta disparou em dois tempos, razão pela qual o promotor não hesitou em destacar que a defesa mudou sua versão dos fatos.

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