Agência France-Presse
postado em 07/04/2014 14:37
Madri - O opositor venezuelano Leopoldo López, acusado de incitar a violência, convocou a partir da prisão uma mobilização geral contra o governo de Nicolás Maduro, em uma carta publicada nesta segunda-feira (7/4) pelo jornal espanhol El País.
"Sair desta crise que afundou a Venezuela na penumbra depende de todos; de que cada um, onde nos cabe, demonstre que está disposto a lutar", afirmou López, de 42 anos, em uma carta enviada a partir da prisão militar de Ramo Verde.
López, economista formado em Harvard e presidente da Vontade Popular, ala radical da opositora coalizão Mesa da Unidade Democrática, convocou seus seguidores a "demonstrar quantos somos os que desejamos uma mudança" para contagiar "todos os que estão descontentes".
"A escassez, a inflação, a crise de saúde, a insegurança, a falta de liberdade e respeito aos direitos humanos limitando a liberdade de expressão, afetam a todos nós por igual", afirmou.
O líder radical, que no dia 18 de fevereiro se entregou voluntariamente à justiça venezuelana, foi acusado na sexta-feira pela promotoria de "instigação pública, danos à propriedade, incêndio em grau de determinador (autor intelectual) e formação de quadrilha".
[SAIBAMAIS]No mesmo dia, 3.000 opositores exigiram em Caracas sua libertação, marcando dois meses de protestos que deixaram 39 mortos e mais de 600 feridos. Cerca de 200 pessoas também estão sob processo judicial, entre elas López e dois prefeitos.
Outra líder radical opositora, María Corina Machado, foi destituída como deputada pela Assembleia Nacional e pelo Supremo Tribunal de Justiça. Afirmando sua "certeza de ter feito o correto", López garantiu não se arrepender de ter lançado uma "faísca que acendeu nos venezuelanos este desejo tão latente de conquistar uma mudança social e política". "O fato de minha prisão estar contribuindo em alguma medida para o despertar os venezuelanos vale a pena", ressaltou.
O Parlamento do Mercosul (Parlasul) abordará nesta segunda-feira a situação política na Venezuela, a dois meses do início dos protestos que deixaram 39 mortos até o momento. O Parlasul terá uma sessão em Montevidéu com a presença de deputados dos cinco membros plenos do bloco e a Venzuela deve dominar os debates.
"Fui informado de que vamos ter na sessão de segunda-feira representantes do governo de Nicolás Maduro e representantes da oposição venezuelana", disse à AFP o deputado uruguaio Rubén Martinez Huelmo, presidente da mesa diretora do Parlasul. Huelmo comentou que, durante a sessão parlamentar, "certamente haverá um debate sobre a situação atual na Venezuela".
Em meados de fevereiro, o Parlasul denunciou a violência na Venezuela e pediu que seus cidadãos se mobilizassem para acalmar a situação sem "ingerências externas", mas indicou que, no marco do "Observatório da Democracia" previsto pelo bloco, uma delegação iria visitar o país.
A missão não aconteceu porque "a Chancelaria venezuelana considerou que a situação da Venezuela não estava dentro do alcance do Observatório. Por isso, vamos trabalhar para redefinir seus alcances, já que atualmente há aqueles que afirmam que apenas processos eleitorais podem ser acompanhados", acrescentou.
O Parlamento do Mercosul -integrado por legisladores de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela - também vai discutir os avanços em temas administrativos, como o regulamento do Parlasul, que permitirá seu funcionamento pleno depois de mais de dois anos de escassas atividades formais.
No domingo, o presidente venezuelano Nicolás Maduro recebeu pela segunda vez desde que começaram os incidentes uma missão da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que tenta iniciar um diálogo entre as autoridades do governo e a oposição.