Agência France-Presse
postado em 08/04/2014 11:05
Londres - O presidente da Irlanda, Michael D. Higgins, iniciou nesta terça-feira (8/4) uma visita de Estado de quatro dias a Londres, a primeira da história, um século depois da independência de seu país. Higgins foi recebido ao meio-dia no Castelo de Windsor pela rainha Elizabeth II, com que compartilhou uma carruagem escoltada pela guarda real até os portões do palácio.Windsor será palco a noite de um dos momentos mais significativos da visita, quando a monarca oferecerá um jantar, ao qual participará Martin McGuinness, ex-líder do IRA, o grupo que durante anos lutou contra as forças Reino Unido. Este católico de 63 anos, por um tempo considerado o "inimigo número um da coroa" pela imprensa britânica, recusou-se a ocupar seu assento no Parlamento de Westminster, precisamente para evitar ter que jurar fidelidade à rainha.
De fato, foi um dos líderes do IRA quando a organização guerrilheira matou em 1979 Louis Mountbatten, tio materno do príncipe Philip e último vice-rei da Índia britânica. Mas também foi um dos principais artíficer do processo que levou ao movimento clandestino depor as armas e um dos principais negociadores do acordo de paz da Sexta-feira Santa em 1998. Isso o levou a tornar-se vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte, em um governo de unidade com seus antigos inimigos protestantes do Partido Democrático Unionista.
A rainha encontrou McGuinness pela primeira vez durante uma visita a um teatro em Belfast, em junho de 2012. Na ocasião, deram as mãos diante das câmeras. No domingo, McGuinness prestou homenagem ao "papel de liderança" que a Rainha "desempenhou e continua a desempenhar no processo de reconciliação". A visita ao túmulo do soldado desconhecido na Abadia de Westminster, em Londres, será outro destaque da visita de Higgins, considerando a história do exército britânico na Irlanda.
"Estamos em um momento muito interessante na história, temos depois da visita de Sua Majestade à Irlanda, muito boas relações entre os dois povos", declarou Higgins antes de partir para Londres na segunda-feira à noite. Há três anos, a rainha Elizabeth II visitou a República da Irlanda, outro evento histórico que marcou o último passo para a normalização das relações entre os dois países, na ausência das honras que serão dispensadas esta semana ao chefe de Estado irlandês.
Higgins, de 72 anos, um poeta e ex-ministro da Cultura, foi recebido no aeroporto de Heathrow, por um representante da rainha. Nesta terça-feira à tarde, Higgins irá se apresentar às duas casas do Parlamento. A visita ocorre 16 anos após os acordos de paz de 1998 na província britânica da Irlanda do Norte, onde duas comunidades ligadas a Dublin e Londres -católicos e protestantes, ou republicanos e unionistas- se enfrentaram por 30 anos, deixando 3.500 mortos.
A trágica história da Irlanda do Norte terminou com a independência da República da Irlanda, em 1922, após um conflito com Londres. "Há muitas lembranças muito difíceis", admitiu Higgins, considerando que se tratava agora de apagar o passado, "Acredito que Sua Majestade, ao vir à Irlanda e mencionar os problemas de nossos dois países, teve a atitude correta", declarou. Ainda que o chefe de Estado irlandês tenha participado de atos oficiais em Londres, Manchester, Liverpool e Escócia no ano passado, não eram visitas de Estado.