Agência France-Presse
postado em 08/04/2014 20:41
Viena - As negociações entre o Irã e as grandes potências sobre o programa nuclear de Teerã avançaram nesta terça-feira (8/4) em Viena, criando a esperança de que em breve possa ter início a redação de um acordo final. "Em algumas questões, conseguimos reduzir as divergências", anunciou Abbas Araghshi, vice-ministro de Relações Exteriores e responsável por questões técnicas da delegação iraniana.
O funcionário fez tal declaração após a primeira rodada de diálogo do chamado grupo "5%2b1", integrado por China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia (membros permanentes do Conselho de Segurança) e Alemanha. Trata-se da terceira rodada de negociações desde que Teerã aceitou, em novembro passado, congelar uma parte de suas atividades atômicas em troca da suspensão de sanções que sufocam sua economia.
[SAIBAMAIS]O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, e a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, que dirige a delegação "5%2b1", concluirão a reunião em Viena nesta quarta-feira. Os países "5%2b1" e a República islâmica esperam avanços suficientes que permitam iniciar em maio a redação de um acordo que suprima toda as sanções contra o Irã em troca de garantias do caráter pacífico de seu programa nuclear.
No entanto, será preciso fazer importantes concessões para conciliar os pontos de vista do Irã, que defend seu direito de desenvolver tecnologia nuclear de uso civil, e as grandes potências, que suspeitam que o Irã tenta desenvolver armas atômicas. Araghshi assinalou que nesta terça-feira "houve uma boa atmosfera", e um alto funcionário americano qualificou de "profissional e útil" o encontro bilateral entre Estados Unidos e Irã que encerrou o dia.
O secretário americano de Estado, John Kerry, advertiu nesta terça-feira que se Teerã retomar seu programa de enriquecimento de urânio, em dois meses o Irã poderá ter material suficiente para fabricar armamento nuclear, o que deflagraria uma "resposta imediata" dos Estados Unidos.
"Acredito que seja de conhecimento público hoje que trabalhamos com um período de cerca de dois meses para que o Irã tenha o material necessário para uma arma", explicou Kerry, em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano. Caso os iranianos rompam o acordo, "tomarão uma decisão com consequências enormes, à qual nós responderíamos - muito provavelmente - de maneira imediata".
Aproximar posições
Em Viena, as duas partes parecem ter realizado progressos nas discussões sobre uma possível cooperação nuclear civil. Há várias propostas sobre o tema, principalmente no que diz respeito aos reatores nucleares de água leve, aos novos combustíveis e às aplicações da energia nuclear na indústria agrícola.
Um dos pontos mais delicados é o programa iraniano de enriquecimento de urânio. De concreto, as duas partes devem chegar a um acordo sobre o número e o tipo de centrifugadoras (usada para enriquecer urânio) que o Irã pode utilizar.
As discussões também se centram no reator de água pesada de Arak. Esta instalação, ainda em construção, utiliza a filial de plutônio, que também serve para fabricar uma bomba nuclear. O Irã quer conservar o reator de Arak para a produção de isótopos médicos, mas está disposto a estudar medidas para dissipar preocupações.
A conclusão de um acordo permitiria por fim ao isolamento econômico do Irã. Os dirigentes iranianos admitiram em 20 de março passado, dia do Ano Novo segundo o calendário persa, que melhorar a situação econômica do país é uma prioridade. Um exemplo concreto das mudanças possíveis: os Estados Unidos autorizaram a Boeing a vender ao Irã peças de aviões que Teerã necessita desesperadamente.
O desafio é grande para o presidente americano, Barack Obama, que deve convencer seus aliados israelenses e sauditas, que desconfiam do Irã, do interesse deste acordo com Teerã. Do lado iraniano, a equipe de negociadores está sob a rígida supervisão do Guia Supremo, o conservador aiatolá Ali Khamenei.