Nova York - A América Latina deve se envolver mais e ajudar a conseguir os recursos necessários para a luta contra a epidemia de cólera no Haiti, que ameaça toda a região, disse nesta quarta-feira (9/4) o coordenador da ONU para a questão, o chileno Pedro Medrano.
"Precisamos de um envolvimento maior da região para enfrentar uma das maiores epidemias de todo o hemisfério ocidental, seja através dos mecanismos regionais de financiamento ou do desenvolvimento de iniciativas inovadoras", disse Medrano à AFP na sede da ONU em Nova York.
Neste sentido, Medrano lembrou a participação de Brasil e Chile, em meados da década de 2000, na UNITAID, um fundo internacional procedente de uma taxa solidária sobre as passagens aéreas destinada a combater doenças como Aids, malária e tuberculose nos países mais pobres do mundo.
"Por que não pensar em um mecanismo semelhante ou, inclusive, que este mecanismo também possa incorporar a cólera como um dos seus desafios?", questionou-se.
A epidemia de cólera começou no Haiti em outubro de 2010, supostamente por responsabilidade dos capacetes azuis nepaleses da ONU, enviados após o terrível terremoto no começo daquele ano. As Nações Unidas enfrentam dois processos judiciais em Nova York por causa da questão.
Desde 2010, mais de 8.330 pessoas morreram e 700.000 foram contaminadas com cólera no Haiti, que ainda está longe de ter controlado a epidemia. Em 2013, foram registrados 65.000 casos e 55 mortes. A doença foi transmitida para países vizinhos, como República Dominicana, Cuba e México.
Para este ano, estão previstos "40.000 novos casos", mas o número pode aumentar, caso o governo haitiano não consiga os recursos suficientes para financiar seus programas de tratamento médico, água potável, saneamento e apoio às comunidades, afirmou Medrano.
Um plano seriamente esvaziado
O diplomata chileno, nomeado em outubro de 2013 pelo secretário-geral da ONU, Ban ki-moon, explicou que as Nações Unidas só obtiveram 15% dos 69 milhões de dólares necessários para seu programa anual de ajuda ao governo haitiano na luta contra a cólera.
"As Nações Unidas prepararam um plano de apoio ao governo haitiano que está seriamente esvaziado", disse.
Medrano afirmou que "Brasil, México e Cuba estão fazendo esforços" bilaterais para ajudar o Haiti, mas esclareceu que, por enquanto, os países da América Latina "não contribuíram em nada" com os fundos de que a ONU necessita para combater a cólera.
Apesar disso, destacou o "papel importante" desempenhado pela América Latina na Missão da ONU para a Estabilização neste país (Minustah), na qual "fornece hoje mais de 70% dos recursos das tropas".
"A ONU não tem um orçamento, trabalha com contribuições voluntárias, não é um banco", lembrou, destacando que "a ideia para os primeiros dois anos era juntar 450 milhões de dólares" no total para o plano do governo haitiano.
Medrano reiterou que "o tema da cólera no Haiti não está entre as prioridades da comunidade internacional" porque "os avanços que foram feitos deram a impressão de que o problema não merece mais atenção".
"Se este problema não for resolvido no Haiti, pode se estender também a outras pares da região", advertiu.
Na década de 1990, a América Latina teve uma epidemia de cólera que começou com um caso em um porto peruano e se expandiu para toda a região, com 18 países afetados, um milhão de infectados e 10 mil mortos.
Com relação aos processos judiciais contra a ONU em Nova York por sua responsabilidade no aparecimento da epidemia, Medrano insistiu que a necessidade de resolver a crise humanitária no Haiti é algo "paralelo".
"É preciso separar as duas coisas, a parte legal segue um caminho paralelo", concluiu.