Agência France-Presse
postado em 10/04/2014 16:08
Beirute - Pelo menos 51 combatentes morreram nesta quinta-feira (10/4) em confrontos entre jihadistas e rebeldes, que de aliados na luta contra o regime de BaShar al-Assad se tornaram inimigos, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).Esses combates começaram com um ataque lançado ao amanhecer pelos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque em Levante (EIIL) contra duas posições controladas pela Frente Al-Nosra, ligada à Al-Qaeda, e por seus aliados, na fronteira com o Iraque, segundo o OSDH.
De acordo com essa organização que se baseia em uma ampla rede de militantes e fontes médicas neste país em guerra, os confrontos foram registrados na cidade de Bukamal, onde os jihadistas do EIIL avançaram em direção ao posto da fronteira.
"Desde o amanhecer, combates violentos são travados em Bukamal. O EIIL avança e assumiu o controle de vários bairros da cidade controlada até agora pela Frente Al-Nosra e pelas brigadas islamitas", afirmou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Além dos mortos em combates, os corpos de outros dez combatentes, aparentemente executados pelo EIIL, foram encontrados perto de Bukamal, segundo a mesma fonte.
Mas, de acordo com informações de um capitão do Exército Sírio Livre (ESL), formado em grande parte por soldados sírios que desertaram, seu grupo "continua a controlar o posto na fronteira com o Iraque".
"Continuamos controlando o posto na fronteira com o Iraque. O EIIL atacou nossas posições em Bukamal e combates ocorrem desde quarta-feira em três setores a 15 km do centro da cidade", afirmou à AFP o capitão Abu Hassan, do ESL.
Um correspondente da AFP na cidade iraquiana de Qaim constatou que a bandeira do ESL permanecia hasteada na localidade.
Em alerta, o Exército iraquiano instalou barreiras de proteção de concreto e sacos de areia ao longo de centenas de metros entre Qaim e Bukamal. "Estamos preocupados com a possibilidade de o o EIIL assumir o controle do posto fronteiriço", declarou à AFP um coronel iraquiano.
Situada na província de Deir Ezzor, a cidade de Bukamal, que tinha 70.000 habitantes antes da revolta, caiu sob controle da rebelião em novembro de 2012, após várias tentativas do regime sírio de assumir o controle da localidade. O EIIL foi expulso da província em fevereiro. Mas a organização ainda tenta controlar a província rica em petróleo e gás.
Iniciado em março de 2011 com uma revolta popular, o conflito na Síria se militarizou diante da repressão do regime. Soldados desertaram e civis pegaram em armas para combater as tropas do presidente Assad. Mas a guerra tem se tornado cada vez mais complexa, com confrontos entre rebeldes e jihadistas vindos do exterior.
Inicialmente aliados, os rebeldes islamitas "moderados", descontentes com os excessos atribuídos ao EIIL e por seus planos de se tornar hegemônico, voltaram-se contra os jihadistas. Entre janeiro e fevereiro, esses combates deixaram milhares de mortos.
Ainda nesta quinta, a Frente Al-Nosra reivindicou em um comunicado o duplo atentado com carro-bomba que deixou pelo menos 25 mortos na quarta-feira em um bairro de Homs (centro da Síria). No bairro de Karm al-Zeitun, na província de Homs, 14 pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram mortas nesta quinta-feira, segundo o OSDH, que atribuiu o ataque a milicianos pró-regime. Mas a agência oficial Sana acusou "um grupo terrorista armado", termo utilizado pelo regime para designar os rebeldes.
O conflito na Síria, que já causou a morte de mais de 150.000 pessoas, parece estar longe do fim. Nenhuma das partes parece ter vantagem, apesar dos recentes avanços do Exército.