Agência France-Presse
postado em 24/04/2014 10:52
Kiev - A Ucrânia realizou nesta quinta-feira (24/4) um violento ataque contra os separatistas de Slaviansk, leste do país, reduto dos rebeldes pró-Moscou na região, no que foi denunciado por Vladimir Putin como um "crime" que terá consequências.
[SAIBAMAIS]Os confrontos entre as tropas ucranianas e separatistas em Slaviansk "deixaram até cinco mortos" entre os insurgentes e um soldado ucraniano ficou ferido, informou o ministério do Interior em Kiev. "Se o atual regime de Kiev começou realmente a utilizar o exército contra a população no país é um crime muito grave contra seu próprio povo", declarou o presidente russo, Vladimir Putin. "É uma operação repressiva que terá consequências para as pessoas que tomam estas decisões, em particular para as relações intergovernamentais", disse.
"Se as autoridades atuais de Kiev fizeram isto, então trata-se simplesmente de uma junta, de uma espécie de grupo criminoso". Em Slaviansk, jornalistas da AFP ouviram tiros em um posto de controle dos rebeldes na entrada norte da cidade e observaram vários blindados - um deles com a bandeira ucraniana - passando diante do posto em chamas. Poucas horas depois, os blindados não eram mais observados na cidade. O líder separatista de Slaviansk, cidade de 100.000 habitantes, Viacheslav Ponomarev, ordenou aos civis que deixassem o município.
Slaviansk está há vários dias totalmente sob controle dos rebeldes pró-Rússia. Homens armados ocuparam vários prédios públicos. Ponomarev solicitou no domingo a intervenção da Rússia para proteger a população. Kiev anunciou ainda a libertação do município de Mariupol, um porto de 500 mil habitantes no sudeste do país, em uma operação que deixou cinco feridos. Mais ao norte, um soldado ficou ferido durante uma operação dos separatistas em uma base militar de Artemivsk.
Troca de acusações
O presidente americano, Barack Obama, acusou nesta quinta-feira em Tóquio a Rússia de não respeitar o acordo internacional de Genebra para reduzir a tensão na Ucrânia e ameaçou com novas sanções. "Havia certa possibilidade de que a Rússia adotasse uma atitude mais sábia depois da reunião de Genebra. Mas até agora vimos que não cumprem com o espírito nem com a letra do acordo de Genebra", disse Obama.
"Mas continuamos vendo homens mal-intencionados, armados, que se apoderam de edifícios, atacando pessoas que não concordam com eles, desestabilizando a região, e não vemos a Rússia se afastando ou desestimulando", completou. "Por outro lado, vocês têm visto que o governo de Kiev tem adotado medidas muito concretas, introduzindo a lei de anistia, oferecendo uma série de reformas sobre a Constituição, que estão de acordo com o que discutimos em Genebra".
"Já aplicamos sanções que tiveram um impacto na economia russa. Continuamos esperando a perspectiva, a possibilidade de resolver a questão diplomaticamente", destacou. "Somos muito claros sobre o fato de que não existirá uma solução militar ao problema na Ucrânia", afirmou Obama. No entanto, se a Rússia não cumprir com sua parte, existirão consequências e "novas sanções", advertiu.
Mas a Rússia acusou Estados Unidos e União Europeia pelo que considera uma tentativa de provocar uma revolução na Ucrânia e de utilizar Kiev como "um peão no jogo geopolítico" contra Moscou. "Na Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia tentaram, realizar uma nova ;revolução colorida;, uma operação de mudança de regime contrária à Constituição", disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
A Rússia chama de "revolução colorida" as mudanças de poder como a "revolução laranja" de 2004 na Ucrânia ou a "revolução rosa" um ano antes na Geórgia. Moscou sempre acusou os países ocidentais de terem provocado as revoltas nas duas ex-repúblicas soviéticas. "Além disso, poucos analistas sérios duvidam de que não se trata do destino da Ucrânia. Simplesmente utilizaram e continuam utilizando a Ucrânia como um peão no jogo geopolítico", completou Lavrov.
"Nossos sócios ocidentais, sobretudo Estados Unidos, tentam comportar-se como vencedores da Guerra Fria e agir como se fosse possível não levar a Rússia em consideração nos assuntos europeus e fazer coisas que prejudicam diretamente os interesses da Rússia", afirmou. Segundo o chanceler, "trata-se de continuar com a política de contenção de nosso país, a qual, no fundo, o Ocidente nunca renunciou", disse, utilizando um termo da época da Guerra Fria.
"Basta recordar a propaganda histérica contra a Rússia difundida por Estados Unidos e Europa bem antes dos acontecimentos na Ucrânia, a vontade de prejudicar por todos os meios os Jogos Olímpicos de Sochi", destacou