Agência France-Presse
postado em 24/04/2014 13:17
Savar - Milhares de manifestantes protestaram nesta quinta-feira (24/4), um ano após o pior acidente do setor têxtil em Bangladesh, exigindo dos distribuidores ocidentais o pagamento de indenizações.
[SAIBAMAIS]"Nós queremos uma indenização", "morte a Sohel Rana", o proprietário do complexo industrial, gritavam os manifestantes em um subúrbio de Daca, perto das ruínas do prédio que desmoronou. Alguns deles carregavam flores e coroas ou estavam envoltos em mortalhas. Entre eles, vários feridos e as famílias dos 1.138 mortos do desabamento do Rana Plaza.
As famílias dos 140 trabalhadores desaparecidos aderiram ao movimento, pedindo ajuda ao governo para encontrar os corpos. Várias crianças participaram do cortejo, com fotos de mães ausentes. "Eu quero o corpo da minha filha. Desta forma, teria um pequeno consolo", declarou, chorando, Minu Begum, mostrando a foto de sua filha Sumi, que trabalhava em um dos ateliês do prédio.
Pela primeira vez desde o acidente, o acesso ao prédio foi autorizado. Alguns sobreviventes, aos prantos, guardaram para si punhados de terra, enquanto outros oravam. Foram registrados confrontos na capital. A polícia utilizou gás lacrimogêneo para dispersar os quase dois mil manifestantes, que atiraram tijolos, exigindo melhores salários e indenizações mais elevadas.
Quase 20 fábricas fecharam as portas para evitar distúrbios, segundo a polícia. Para marcar o primeiro aniversário do desabamento do edifício, ONGs e sindicatos denunciaram a atitude de 29 redes varejistas de vestuário, incluindo Benetton, Auchan, Carrefour e Mango, suspeitas de produção terceirizada no prédio Rana Plaza.
"Estas marcas abandonaram os trabalhadores pela segunda vez", escreveu Ineke Zeldenrust, da organização Clean Clothes Campaign em um comunicado. Os distribuidores "não estão preocupados com a segurança das fábricas das quais compram e agora abandonam os sobreviventes e as famílias que perderam entes queridos", acrescentou.
Para a coordenação dos sindicatos IndustriALL, os distribuidores forneceram "contribuições lamentavelmente insuficientes" ao fundo de indenização criado para ajudar os feridos e as famílias dos mortos. Apenas 15 milhões de dólares foram arrecadados dos 40 milhões prometidos para este fundo.
O desabamento da Rana Plaza matou 1.138 trabalhadores e feriu outros dois mil, revelando as condições de segurança deploráveis nas fábricas e os baixos salários. O desastre forçou os distribuidores ocidentais a iniciar inspeções de segurança e o governo a aumentar o salário mínimo.