Agência France-Presse
postado em 24/04/2014 13:25
Jerusalém - Israel decidiu nesta quinta-feira suspender as negociações de paz com a Autoridade Palestina e sancioná-la após o acordo de reconciliação com o Hamas, mergulhando o processo de paz iniciado por Washington numa crise.O secretário de Estado americano, John Kerry, que vinha tentando nos últimos meses salvar as negociações de paz retomadas em julho de 2013, pediu que as duas partes "façam compromissos".
[SAIBAMAIS]Já o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou à rede americana NBC que o acordo entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), do presidente palestino Mahmud Abbas, e o movimento islamita Hamas para formar um governo de união "mata a paz".
O negociador palestino Saeb Erakat atribuiu o fracasso do processo de paz à política israelense de colonização nos territórios palestinos ocupados.
Este acordo, que prevê a formação de um governo de consenso nacional com o Hamas, considerado por Israel "um grupo terrorista", e a realização de eleições no final de 2014, foi anunciado em plena crise nas negociações de paz que não atingiram nenhum resultado tangível desde que foram retomadas, em julho de 2013.
O anúncio da suspensão das negociações foi feito após uma reunião de cinco horas do gabinete de segurança reunindo Netanyahu e seus principais ministros.
"O gabinete decidiu de forma unânime que o governo israelense não negociará com um governo apoiado pelo Hamas, uma organização terrorista que pede a destruição de Israel", indicaram os serviços do primeiro-ministro.
"Além disso, Israel tomará uma série de medidas, respondendo, assim, às decisões unilaterais da AP" (Autoridade Palestina), acrescentaram, em referência a possíveis sanções.
"Acredito que o que aconteceu é um grande revés para a paz (...) O presidente Abbas deu um enorme passo para trás, ao concluir um pacto com o Hamas", disse Netanyahu à NBC.
O Hamas, no poder em Gaza desde 2007 e que rejeita as negociações de paz com Israel, também é considerado uma "organização terrorista" por Washington e pela União Europeia.
;A porta não está fechada;
A ministra da Justiça Tzipi Livni, encarregada das negociações do lado israelense, ressaltou que seu governo "suspendia" as discussões e que "a porta não está fechada". Segundo ela, as medidas punitivas estipuladas foram bem "calculadas" e não causam "um desmoronamento da Autoridade Palestina".
Do lado palestino, Erakat culpou Israel pelo fracasso das negociações. "Pediu-se durante anos que o governo Netanyahu escolhesse entre a paz e as colônias, e ele as escolheu".
Ele acrescentou à AFP que a Autoridade Palestina vai examinar "todas as opções" em resposta às decisões punitivas de Israel.
A liderança palestina vai se reunir neste fim de semana em Ramallah, na Cisjordânia, para discutir a crise. Entre as possibilidades analisadas pelos palestinos, está a adesão a novos tratados e organizações internacionais.
Não é a primeira vez que as duas partes palestinas anunciam a formação de um governo de consenso. O Hamas e o Fatah, que tem sede na Cisjordânia, assinaram acordos de reconciliação em 2011 e 2012 para acabar com suas divisões, mas as eleições foram constantemente adiadas.
Erakat também acusou Israel de "roubo", já que impõe sanções contra a Autoridade Palestina congelando a transferência de impostos que recolhe em nome da Autoridade após os recentes pedidos de adesão da Palestina a 15 tratados e convenções internacionais.
"Este dinheiro nos pertence (...) A decisão de bloquear os fundos palestinos é roubo e pirataria que a comunidade internacional deve impedir", declarou.
Abbas conversa com americanos
Abbas iniciou nesta quinta-feira suas consultas para formar o "gabinete de consenso" que ele dirigirá e que será formado por personalidades independentes.
Ele recebeu o emissário norte-americano Martin Indyk, cujo país expressou sua "decepção" após o acordo de reconciliação e conversou por telefone com o secretário de Estado John Kerry, segundo fontes palestinas.
O departamento de Estado advertiu que a reconciliação palestina terá "evidentemente implicações" sobre a ajuda americana.
No exterior, a Turquia e a Tunísia comemoraram o acordo de reconciliação, enquanto o chefe da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, expressou o apoio de sua organização a Abbas frente "às pressões israelenses".
A UE também saudou o acordo entre os palestinos, mas advertiu que a prioridade é a manutenção das negociações com Israel. A França se disse preparada para trabalhar com um gabinete palestino que apoie o processo de paz.
A ONU indicou que apoia a unidade palestina com base no reconhecimento de Israel e da não-violência.
De acordo com Jibril Rajub, ligado a Abbas, o "gabinete de consenso proclamará de maneira clara que aceita as condições do Quarteto" (Estados Unidos, Rússia, União Europeia, ONU) para o Oriente Médio. O grupo exige do Hamas que o reconhecimento de Israel e a renúncia à luta armada.